sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

DEUS QUER… A OBRA NASCE


Enquanto Provedor de Justiça de Portugal, o Henrique, tinha um sonho: criar uma federação de Provedores de Justiça/ Ombudsman que congregasse todos os países que falam Português. Em 2005, 30 e 31 de Maio realiza-se em Lisboa o II Colóquio Luso - Brasileiro de  Ouvidores Públicos/Provedor de Justiça. São estas algumas das palavras pronunciou nessa ocasião:

Qual a intenção destes colóquios? Em primeiro lugar, naturalmente, aprofundar os laços de conhecimentos entre as instituições brasileiras de Ouvidoria Pública e a instituição portuguesa do Provedor de Justiça. São diferentes, claro. Mas isso não obsta a que procuremos apreender as nossas experiências e, através desse contacto, evidenciar o laço apertado que une brasileiros e portugueses por sobre o oceano que nos separa e, independentemente da inserção político - geográfica de cada um dos nossos países, reafirmar a fraternidade intemporal que espero seja sempre preservada entre ambos os Povos.
Disse-vos que visiono mais longe, para o espaço da Lusofonia. Timor-Leste foi o primeiro país da Lusofonia, depois de Portugal, a instituir o seu Provedor de Justiça e dos Direitos Humanos, ainda recentemente. E Angola foi o primeiro país africano de língua portuguesa a criar o seu Provedor de Justiça. Eu espero que o seu exemplo frutifique nos outros países africanos de língua portuguesa – e aí, ele tem um papel fundamental como paradigma de uma instituição da democracia em África de língua portuguesa - e auguro que, um dia, todos juntos, angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, portugueses, são-tomenses e timorenses possamos criar uma associação que congregue as nossas instituições de Ombudsman.
Um grande poeta português escreveu isto: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Nós temos, pois, a obrigação de sonhar para que a obra nasça.
Depois de nós outros virão. Mas que nunca digam que nada fizemos. Nós já fizemos.”

Nesse mesmo ano, 2005, em Florianópolis, o mesmo tema: olhar mais longe, para todo o grande espaço lusófono, com um grande apelo: sensibilizar o Brasil para a vantagem de criação da figura do Ombudsman parlamentar.

Estamos a olhar para mais longe, para todo o grande espaço de uma fala comum, que, hoje é ocupada por oito países, dispersos da América do Sul, à Europa, à África e á Oceania, cada um com os seus naturais e legítimos interesses estratégicos todos diferentes – e, todavia, todos irmanados na mesma língua em que nos compreendemos com facilidade quando estamos em casa do irmão, com a sua específica e incontornável identidade nacional.
Se os Ombudsmen dos países da América do Sul já criaram a sua Federação; se os Ombudsmen francófonos estão, eles também, agrupados na sua “Association des Ombudsmans et Médiateurs de la Francophonie”; se os 25 países da União Europeia têm os seus Ombudsmen, que se reúnem periodicamente e têm “redes” estreitas de relacionamento; se Timor Leste, Angola, Moçambique e Cabo Verde já têm Provedores de Justiça ou, pelo menos, já os instituíram constitucionalmente – o que falta para que o grande e tão variado mundo da língua em que todos nos entendemos avance para uma qualquer fórmula de associativismo das suas instituições análogas?
Falta-nos o Brasil, claro. Podemos criar as raízes dessa associação – mas sem as adequadas instituições brasileiras, ela seria como um embondeiro de tronco retorcido, um jacarandá ou uma buganvília sem cores, uma cerejeira sem fruto, ou um coqueiro com cocos sem sumo.
Não seriamos nós todos, portanto. E ou somos todos nós, ou não saberemos responder ao desafio histórico do século da mundialização, da riqueza intercultural de que também se faz o humanismo e dos direitos humanos, que são universais.”