segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

SÉCULO XXI – SÉCULO DA LUSOFONIA

Intervenção na sessão de abertura do 1º Congresso dos Quadros Lusófonos.

Será obra dos sonhadores e esforço de lideranças inovadoras esboçar as fronteiras do que seja este século. Mas serão sempre os povos da lusofonia a fazer dele um século de comunhão e de realização lusófonas, sob pena de não passarmos de episódicas, ainda que fraternais comemorações.
O primeiro requisito para que este século seja, também, o da Lusofonia, implica o respeito dos Direitos Humanos nos oito países que constituem o espaço lusófono e em cada um deles.
Podemos falar uma língua comum, património dos Oito – e é bom que o façamos através da variedade que concorre para o enriquecimento da fala em que nos escutamos e compreendemos sem tradutores -, mas não conseguiremos verdadeiramente unir-nos sem o cimento do respeito pelos direitos humanos, dentro de cada um dos nossos Países e entre os oito.
Os direitos humanos implicam, como se sabe, que cada pessoa seja respeitada na sua eminente dignidade de ser humano à luz do Direito e na sua vivência quotidiana. Por isso, enquanto não existir uma liberdade que nos solte de velhas e novas amarras de opressão, uma democracia que não nos antolhe a plena cidadania, uma justiça que proteja os fortes em desfavor dos fracos, uma sociedade que rejeite o Outro porque não respeita a diferença – não haverá direitos humanos.
A língua em que conversamos, através da qual nos abraçamos, ou em que mutuamente nos “xingamos”, é um instrumento, poderoso é certo, mas apenas um instrumento com uma primeira finalidade: a de proclamar, modelar e fazer observar, na prática, em cada um dos nossos Países e nos Oito, a defesa e o cumprimento dos direitos humanos.
Não haverá “Século da Lusofonia” se não houver Século dos Direitos Humanos, ou seja, direitos civis e políticos; e direitos económicos, sociais e culturais, a que se juntam hoje todos indissociáveis, os chamados direitos da terceira geração, como são, por exemplo, os direitos das minorias nacionais, étnicas, religiosas ou linguísticas e o direito à sustentabilidade ambiental.
Multipliquem-se as cimeiras políticas, incrementem-se as relações comerciais, expandam-se as organizações e as acções de voluntariado humanitário, criem-se redes de combate às doenças que medram, hoje, como novos flagelos, implantem-se universidades e centros de ensino em parceria, estreitem-se laços desportivos. Façamos, juntos, tudo isso, sim. Acima de tudo, porém, façamos de cada mulher e de cada homem dos nossos oito Países um cidadão livre e responsável.
Façamos cidadania: assim faremos o “Século da Lusofonia”.
1ª Congresso dos Quadros do Espaço Lusófono. Lisboa, 4 de Maio de 2004