sexta-feira, 24 de maio de 2013

A VIDA NÃO ME DERRUBARÁ


Um dia, há mais de meio século, o Henrique escreveu: “Eu deixaria de ser eu se fosse derrotado. Nunca me darei por vencido. Essa hipótese põe-se-me tão improvável como se eu pudesse trazer a lua dentro do bolso do meu casaco; e se a vida me for adversa, tudo o que de mau há nela terá de me derrubar e passar sobre mim para que eu renuncie. Mas para que ela passe sobre mim, será necessário que eu já não tenha forças para passar eu por cima dela. Só nesse dia, porventura, terei desistido de sonhar.”

Retomamos mais um trecho da carta enviada ao Senhor Presidente da Assembleia da República:

 “ Vossa Excelência teve a amabilidade de me transmitir ter dado conhecimento dessa minha comunicação à Conferência de Líderes parlamentares e de ter renovado o apelo para a apresentação de candidaturas ao cargo de Provedor. Estas só vieram a ter lugar mais tarde e, infelizmente, sob um enquadramento de ruptura negocial, por natureza avessa aos compromissos político-partidários democráticos que seriam necessários; mas gostaria de aqui expressar o meu maior respeito pelo alto sentido cívico emprestado pelos candidatos ao processo eleitoral de substituição do Provedor de Justiça, que culminou com a votação da última sexta-feira.
A partir daqui já não seria curial, Senhor Presidente da Assembleia da República, forçar mais a minha consciência e degradar ainda mais as minhas delicadas condições de saúde – que há longos meses se foram deteriorando – com um prolongamento de mandato cujo fim alguns Senhores Deputados anunciam só poder ter lugar na próxima legislatura, ou, para ser mais rigoroso, talvez no início do próximo ano.” (…)
Quem o acompanhou depois deste «acto de liberdade» sabe bem que o Henrique não se sentiu derrotado, não foi derrubado pela adversidade, nem deixou de sonhar. Basta recordar a alegria, a felicidade do seu rosto nesse último encontro com o seu grande amigo Defensor del Pueblo de Espanha . Era o dia 9 de Junho de 2010, poucas horas antes de ser surpreendido pela morte. Só então desistiu de sonhar.