Na minha recolha de
memórias encontrei histórias, poemas, pequenas notas, coisas esquecidas.
Para encontrar é necessário
revolver, procurar. Está cá tudo dentro. Não sei se na alma se no coração. Em
1953, na hora da despedida - o pai tinha sido transferido do Luso para Sá da
Bandeira, (o Henrique não tinha entrado, ainda, na minha vida), um poema de um mestre,
de um amigo, que marcou profundamente o seu gosto pelos livros, pelo saber, e,
pelo saber dizer.
Cuidado,
Henrique, porque nesta vida
Nem
todos são amigos verdadeiros!
Duvida
dos que forem lisonjeiros
Porque
tal ralé é só fingida.
Porque
uma parte – a parte mais crescida –
É
feita de um punhado de matreiros
Que
te abandonarão, entre os primeiros,
Numa
curva qualquer da tua vida.
Escolhe
com cautela! Escolhe poucos
Mas
que sejam sensatos e não loucos
Dos
que podem usar de falsidade
Possas
este livro preencher
Com
amigos sinceros, a valer,
E
este livro será só o da amizade
Angola
- Vila Luso 16 de Dezembro 1953