Não sou morro nem
penhasco.
Não sou vento.
Não sou brisa.
Da vida
Já sou só sombra
(nuvem breve,… envelhecida).
Não sou garota nem
jovem
De larga saia rodada,
Não sou mãe. Não sou
avó.
Não sou estrela nem
cometa.
Não ando a pé na
calçada.
Não sou estrada.
Sou ruela,
Talvez beco ou
labirinto.
Alma negra em
sofrimento
Minha saudade
esquecida.
Tu não estás.
Eu não sou nada
“Porque hoje eu sei
que só morrem verdadeiramente aqueles que, depois de mortos, nós conseguimos
matar também. E nada é pior do que um morto vivo, habitando lado a lado com os
que não morreram e tiveram a coragem de tentar viver para além da morte dos que
amavam.”
IN “ Madrugada Suja”
de Miguel Sousa Tavares