sexta-feira, 18 de novembro de 2011

QUEM SEMEIA VENTOS…..

"O projecto que o Governo segue foi votado em eleições livres e consubstancia-se no programa que a Assembleia aprovou.

Um projecto diferente teria de se submeter aos mesmos processos democráticos.

Um governo de propensão conservadora, ainda por cima defrontado, como estamos, com uma crise económica internacional com reflexos internos, virar-se-ia, inevitavelmente, para soluções de confronto.

Isto suscitaria uma fortíssima oposição do movimento sindical no seu conjunto. A instabilidade social alastraria, provocando mecanismos instintivos de repressão. Estariam criadas boas condições para os projectos de poder pessoal e para a intervenção de diversas forças políticas de sinal extremista.

A maioria do nosso povo não quer situações de grave instabilidade política e social. Os empresários sabem bem que uma política de diálogo e distensão sociais é uma condição imprescindível para o desenvolvimento do País.

O que os empresários exigem, e legitimamente, é disporem de condições para a modernização das suas empresas.

Ora sabe-se que isto não se consegue através de confronto institucional ilegítimo, que põem em causa os alicerces da nossa democracia, nem através de uma política de afrontamento cego em relação aos sindicatos e aos trabalhadores.

Uma política de diálogo social alargado exige como condição essencial que o interlocutor dos parceiros sociais, ou seja, O Governo, tenha apoio e seja claramente sustentada pela sua base política e social.

É obvio que não se vai dialogar se o interlocutor foi enfraquecido internamente. Em tais situações não se dialoga: amplia-se a luta, radicaliza-se a reivindicação laboral e procura-se instalar a agitação permanente.

Quem semeia os ventos, e nem sequer os sabe dominar, colherá tempestades. Eu pergunto se é isto a defesa dos interesses do País, da estabilidade social e do progresso económico."

In “A Capital” ( Entrevista a Nascimento Rodrigues) 7 de Agosto de 1981