A três de Junho de 2009 o Henrique regressa a
casa para dar o seu tempo à família, aos amigos, aos livros, para continuar a
viver.
Escasso tempo….
“ Na nossa casa de férias, a casa da Takula,
costumávamos pedir silêncio uns aos outros sempre que subíamos ao escritório e
o encontrávamos deitado no sofá, de olhos fechados, mãos cruzadas sobre o
peito. Nesses momentos, sabíamos que descansava, que estava feliz, sereno,
reconfortado com a vida.
Também agora descansou, e para sempre. A vida
do nosso pai terminou, chegou ao fim, teve um final. Mas pleno de sentido. Ele
viveu uma vida com fio condutor, uma vida com trilho. Olhar o passado e
perceber que não poderia ter havido outro caminho, como se a sua vida se
predissesse, desde o início. Reler os contos que escreveu na juventude, reencontrá-lo,
a ele mesmo. Herdar de um pai uma vida única e una na sua coerência interna como aliança que se entrega em compromisso.
Sentir um profundo orgulho pelo trajecto que fez e pelos passos que deu, dos
primeiros aos últimos passos. Compreender hoje, melhor do que nunca, a
singularidade daquela pessoa, o ser humano excepcional que foi, a sua
irrepetibilidade. Compreendê-lo, recordá-lo e continuar, seguindo-lhe o
caminho. Recordar fundamentalmente um homem livre. Um homem que ao invocar a
liberdade como determinante da decisão de renúncia mais não faz do que ser fiel à mesma liberdade que aprendeu no Kimbo e que usou em todos os cargos que exerceu e na
forma como esteve na vida. A coerência de pensamento, a firmeza de atitudes
demonstrada, foram uma constante na sua vida.
Creio que o seu sonho de “ser alguém” se
cumpriu. O nosso pai, Henrique Nascimento Rodrigues, não se limitou a passar
pela vida. Modificou-a e modificou a vida de outros. Hoje Portugal tem muito
dele próprio.
Viveu e morreu o Ouvidor do Kimbo, que tinha
o ouvido no coração.
Sofia Nascimento Rodrigues