“ Sobre as causas da renúncia do meu pai ao
cargo de Provedor de Justiça, e sobre o processo que o levou a decidi-la, creio
que ele disse tudo e exactamente aquilo que queria dizer. Mais não teria dito
se mais tempo tivesse vivido.
Mas não sendo a sua doença a causa dessa
renúncia, poderíamos nós, família, não a olhar também nesse particular contexto
de debilidade física? A verdade é que, forçado a manter-se no cargo, foi-lhe
exigido um esforço físico que a sua já muito debilitada situação de saúde, não
deveria suportar. Forçado a manter-se no cargo, adiou actos médicos, que se
impunha realizar. Forçado a manter-se no cargo chegou mesmo a exercer as
funções de Provedor de Justiça hospitalizado. Deixou-se esforçar para além da
sua possibilidade física. Mas nunca se deixou forçar para além da sua
consciência e da sua liberdade. Foram estas e não aquelas que ditaram o momento
em que entendeu renunciar”.
Sofia Nascimento Rodrigues