Um passar de
olhos pela imprensa escrita, à época dos acontecimentos em Guimarães, (a
propósito da recomendação do Provedor de Justiça), permitiu-nos encontrar, com cambiantes de acordo com a orientação
política de cada jornal, uma unanimidade de opiniões acerca das conclusões e
decisões do referido parecer.
Por exemplo, “O
Diabo” do dia 22 de Agosto de 2000 dizia
o seguinte:
“ A malta brava
de Guimarães não desarma. Sobra-lhe em teimosia o que em vergonha lhe falta. Os
papazinhos das tenras criancinhas atacadas de stress pré-exames, não contando
já convencer o ministro da Educação, que mais não seja, esmagado pelo peso da
opinião pública, resolveram apelar ao provedor de Justiça. Em boa hora o
fizeram para darem a Nascimento Rodrigues uma oportunidade de sair das brumas
da memória e vir a público afirmar que as criancinhas não têm razão e que os
exames devem ser repetidos. Quanto aos senhores doutores que passaram os
atestados em massa, os meninos sofredores e os papás preocupados, tudo indica
que a culpa volte a morrer solteira”
In
“O Diabo” terça feira 22 de Agosto de 2000
“ O Ministério
da Educação vai alterar o regulamento das provas globais do 10º e 11º anos,
nomeadamente no que respeita ao regime de faltas. Uma fonte do Ministério
assinalou que esta decisão já estava tomada, e não fica a dever-se a uma
proposta do provedor de Justiça nesse sentido(…)”
“Alguns encarregados de educação dos alunos de Guimarães envolvidos
no já célebre “caso dos atestados médicos” esperavam, talvez pela própria
natureza do cargo, encontrar no provedor de Justiça a compreensão e
benevolência que até agora julgavam ter faltado ao Governo e à opinião pública.
Puro engano, Nascimento Rodrigues recusou liminarmente os argumentos
apresentados pelos pais e considerou “totalmente improcedente” a reclamação.
Mas foi mais longe: em vez de se refugiar numa anémica apreciação técnica, elaborou
um autêntico libelo acusatório a um modelo educativo despido de valores e que
estimula, em vez de condenar, o oportunismo e a deslealdade. Discreto, na
esteira dos seus antecessores, Nascimento Rodrigues não tinha tido até agora
muitas oportunidades de intervir num processo de forte exposição mediática.
Fê-lo de forma exemplar porque o provedor de Justiça até teve a coragem de ser
politicamente incorrecto ao considerar a actual lei reguladora dos exames
potenciadora de “situações de
permissividade”.
In “
Expresso” 26 de Agosto de 2000