A maré sobe
longínqua e distante,
mas sobe...
Tem a força de um atlante
e a frescura gloriosa da manhã!
Podem forjar matadoiros,
abrir veia por veia
os pulsos que não suportam algemas;
e preparar sorvedoiros
e emboscadas de atalaia
e erguer barreiras na praia
contra a onda que se alteia
para afogar nos seus braços
abismos de escuridão...
Areias loucas da praia
a hora da maré cheia
cantai-a
não há barreira que tolha
a gloriosa ascensão!
Onde o poder pr'a impedir
que a Primavera floresça?
Aconteça o que aconteça
a Primavera há-de vir
e a maré
longínqua e distante,
continuará a subir...
Lilia da Fonseca
Nasceu em Benguela, Angola, a 21 de Maio de 1916
Faleceu em 1991