1983, ainda! O novo fôlego da AD dura pouco tempo. A tentativa de
apresentar ao P.R. um novo Governo, desta vez liderado por Vítor Crespo, cai
por terra. Terá que haver eleições antecipadas e reajustamentos nos órgãos dos
partidos da AD. No horizonte, Congressos dos partidos da coligação.
É o momento de o Henrique fazer um balanço da sua actividade como vice -
presidente da Comissão Política Nacional do PSD.
Nascimento Rodrigues – “Exerço
as funções de vice – presidente há pouco mais de um ano, visto que fui eleito
no último Congresso, realizado em Dezembro de 1981.
Um ano é muito pouco para um balanço conclusivo, sobretudo, para quem,
como eu, não tinha experiência concreta de funções desse tipo. E, depois, não é
verdade que ninguém é bom juiz em causa própria?... Fiz o que me foi possível e
com foi possível, eis tudo. Admito, no entanto, que se poderia esperar mais da minha
actividade, partindo-se do pressuposto de que esta iria exercer-se no contexto
de uma assunção mais clara de direcção partidária. Mas tal pressuposto é
errado, porque, na distribuição de tarefas oportunamente operada no âmbito da
CPN, aliás por consenso, não se verificou nunca uma delegação efectiva e
permanente dos poderes que cabem ao Presidente do Partido, nos termos
estatutários. De modo que nunca entendi estar autorizado a actuar com
exorbitância das funções próprias de um vice-presidente, ademais um de entre
quatro vice-presidentes. Gostaria de sublinhar que jamais se suscitou qualquer
problema pessoal por força do enquadramento a que me refiro. Mas é possível que
assim se tenha involuntariamente criado um equívoco institucional nunca aclarado
na orientação da direcção nacional, e/ou uma situação de menor “rentabilidade”
desta. O que importa, todavia, é retirar da experiência os ensinamentos úteis
para situações futuras iguais ou análogas em assuntos que têm a ver,
exclusivamente com a melhor funcionalidade na realização dos rumos estratégicos
do PSD.
Quanto às linhas de orientação fundamentais porque me pautei no exercício
deste cargo, poderei sintetiza-las do seguinte modo:
Contribuir para um diálogo que fosse sinónimo de clarificação de
opções, no respeito pela civilidade dos comportamentos e pela democraticidade
interna dos processos de livre expressão interna de opiniões; e dar testemunho
concreto do que entendo ser a elementar obrigação de solidariedade institucional
interna no exercício do cargo de Vice-presidente. Eu não entendo como se possa
aceitar e manter o exercício de um qualquer cargo de direcção nacional do
Partido para dele se fazer uma utilização em proveito de opiniões e objectivos
pessoais. As discordâncias e as divergências são para colocar nos órgãos internos
do partido, não para se transplantar para o exterior, sobretudo quando essa
transplantação mal esconde a marca farisaica do chamado distanciamento ou da
crítica dos que querem estar com um pé num lado e o outro pé noutro lado. De
modo que, e em suma, eu não enjeito em nada a responsabilidade de ter assumido
e expressado publicamente, sempre que foi necessário a defesa das posições
oficiais do Partido. Esse era o dever do meu cargo e procurei cumpri-lo. Não
estou arrependido!
Lisboa, Janeiro de 1983. IN “O Povo Livre