Ao rever muitos dos textos que o
Henrique redigiu ao longo da sua vida, vem-me à memória o homem, o
adolescente, o jovem adulto que os escreveu. E fico espantada com o fio
condutor do seu pensamento, com a preocupação social que manifestam, com a
inquietação que as situações de desigualdade lhe provocam, com a necessidade
absoluta que sente, de, arranjar competências para as corrigir. De facto,
terminar a sua carreira como “Defensor do Povo”, “Provedor de Justiça”,
“Ouvidor”, “Ombudsman”, ou como lhe queiram chamar, estava inscrito no seu ADN.
O texto de hoje tem o título que
o Henrique lhe atribuiu:
O PROBLEMA DOS
ESTUDANTES ULTRAMARINOS
“ Os periódicos metropolitanos, designadamente o “Diário Popular”, o
“Diário Ilustrado” e, salvo erro “O Século”, vêm-se referindo, de há uns tempos
para cá, às necessidades e dificuldades que encontram, no Continente, os
estudantes Ultramarinos, chamando a atenção de quem de direito para o grave
erro que se estava cometendo, nomeadamente o de não dar a devida atenção a um
autentico e verdadeiro problema, que muitos julgariam simples e fácil questão
de adaptação. O desenvolvimento e a extensão que tomaram os problemas das
províncias ultramarinas portuguesas, levou, felizmente, alguns sociólogos e
estudiosos a dedicarem-se à juventude das nossas terras de além-mar que, na
Metrópole, vêm continuar os seus estudos. E digo felizmente, porque o problema
que se põe merece, a ajuda e a cooperação dos portugueses do Continente. Mas
para que se solucione o problema, surge, primeiro analisar as causas,
determinar-lhe os princípios, buscar-lhe a génese, para se arranjar solução.
Essas causas são de índole variada, e vão desde o campo político-social
ao de ordem pessoal e sentimental. (…). Procuraremos, antes de mais, entender
as causas desde as suas origens até às suas consequências; remeteremos, depois,
o nosso pensamento para as soluções já adoptadas e para aquelas que julgarmos,
em nosso entender, as mais convenientes. (…)”
O texto prolonga-se,
brilhantemente escrito, brilhantemente concebido, como sempre foi seu hábito. O
Henrique tinha então 17 anos. Tinha uma enorme ambição de intervir. Intervir
para resolver, para mudar, para corrigir. Quarenta e três anos depois, mais
precisamente a 9 de Junho de 2001, o jornalista do Semanário “O Expresso” coloca-lhe
directamente esta pergunta:
O Expresso – Ser Provedor de Justiça é aquilo que esperava?
Nascimento Rodrigues – “Nunca
esperei ser provedor de Justiça. A ideia que tinha do cargo corresponde à
realidade, o que me surpreendeu foi o volume de queixas anuais (…), e o
principal objectivo do provedor deve ser responder com a maior celeridade
possível aos cidadãos.
Já no final do segundo mandato,
em resposta à pergunta da Jornalista do Expresso sobre qual seria a medida ou
intervenção que considerava mais emblemática no seu trabalho respondeu: “ O meu trabalho quotidiano, silencioso e
persistente.”