Deixem saltar o exótico
palhaço,
O homem-cobra a
estrebuchar no espaço,
Com plumas de guerreiro
E guizos de feiticeiro,
Máscara de fantasma e
de diabo,
Um bicho com chavelhos
e com rabo,
Que canta e dança e
grita,
E em cujo sangue
palpita
Todo o mistério, o amor
e a desgraça
Que andam na alma da
sua própria raça.
Deixem saltar, dançar e
rir, chorar…
Esse mukiche acrobata
Que traz no sangue uma
tragédia nata
E uma comédia invulgar;
O bobo e o guerreiro
Fantasma, bailarino e
feiticeiro,
Que representa, afinal,
O drama e a farsa
sempre igual,
Vividos no batuque dos
sertões,
Vividos no cenário dos
salões…
(Poesia de J. Galvão Balsa, in “Oiro
e Cinza do Sertão)
Galvão Balsa, o Poeta de Angola, foi professor do Henrique no Luena ex- Lila Luso A 11 de Janeiro de 1981, numa longa carta, diz-lhe o seguinte:
"Meu caríssimo Henrique, podes imaginar o contentamento e o orgulho que sinto, ao ver, um dos meus primeiros alunos de Angola, um dos meus melhores amigos de tempos tão distantes, assim colocado num degrau superior da vida, mercê da inteligência e do esforço triunfantes. Distanciamo-nos tanto no espaço e no tempo que ao ver-te, agora, um homem de barbas e um Senhor Ministro, não consigo ver bem em ti o Henrique que anda mais vivo na minha memória - o rapazinho franzino e vivo, sensível e algo tímido, de camisa branca e calção azul, com uma melena alourada caída sobre a testa; o pequeno artista declamador, vibrante, emocional, que sabia dizer Poesia com a boca, e com os olhos, e com as mãos; o pequeno companheiro de jogatanas de futebol, em que era um rapaz entre rapazes; e o amigo choroso, à janela de um comboio naquele dia em que deixavas a nossa Vila Luso, de caminho para Sá da Bandeira. Este é que é o Henrique que vejo diante de mim, como que fazendo, num palco distante da vida, o papel de homem o papel de Ministro..."