Este texto, que, o Henrique escreveu, algures no tempo, provavelmente década de 80 ou década de 90, é intemporal. Poderia ter sido escrito hoje, dia em que passam 31 meses após a sua morte. Não conseguimos homenageá-lo doutra maneira, a não ser lembrando o seu pensamento social, genuíno e solidário.
“O desemprego representa um
desperdício dos recursos humanos de um País, afronta a dignidade pessoal de cada homem, é uma limitação da liberdade individual e
corrói, a prazo, a ossatura social da comunidade que somos todos nós.
O problema do desemprego, exige
uma mudança individual e social. E esta implica o desafio de reconciliar o
Estado e o cidadão, o económico e o social, o mercado e o trabalho, o ambiente
e a terra, os valores de identidade histórica e a descoberta de direitos e
deveres novos que recoloquem o homem como pólo de identidade e de realização de
si próprio e dos outros.
Eis-nos defrontados com o nó górdio de produzir uma mudança cultural.
Sem esta não haverá solidariedade social no respeito pela liberdade. Nesta
co-responsabilização de todos está a chave do sucesso deste enorme desafio. Porque é essa responsabilidade individual
e solidária o húmus da coesão nacional
Mas os postos de trabalho devem ser produtivos, devem constituir um
factor de desenvolvimento económico e não um bloqueamento.
É uma ilusão, que se vira contra os próprios trabalhadores, pretender a
segurança à custa de soluções artificiais, que nada mais representam do que a
agonia conducente ao desemprego.
Nós somos – nós temos de ser –
solidários com todos aqueles que em vão procuram um trabalho digno, e com todos
aqueles que preocupadamente sentem hoje a fragilidade dos seus postos de
trabalho.
Tem de haver um «amanhã» melhor para esses
homens, mulheres, esses jovens.
Porque eles são um potencial humano capaz de impulsionar o País, na força
desesperada dos que por não terem trabalho, sentem incisivamente o valor desse
mesmo trabalho.
E também, e sobretudo, porque nunca haverá
justiça onde grassar o desemprego.