"A Democracia não se esgota nos partidos políticos, não se
fecha nos parlamentos e não se reduz a eleições livres e periódicas.
A Democracia não é, e nunca foi, senão um sistema de lenta,
penosa e difícil construção de uma ordem política, económica e social mais
livre e mais justa.
Democracia não significa apenas ausência de ditadura. As
liberdades que ela postula só são reais, e não meras caricaturas, quando
exercidas num Estado de Direito, o que pressupõe o império da lei e o primado
da Justiça.
A Democracia não é um «bem de
luxo», próprio para consumo dos países ricos. Cada homem e todos os homens têm
direito à liberdade e à justiça social. Onde elas existirem, haverá paz na consciência
dos homens
Não está nunca definitivamente conquistada, senão através da
tolerância, do diálogo, do esforço permanente de compreensão e de busca de
soluções comuns.
A Democracia representativa não pode dispensar a
participação empenhada dos cidadãos.
Mas quando o sistema de representação partidária abre
brechas, a confiança dos cidadãos nos dirigentes políticos por eles escolhidos é
abalada, quando despontam preocupantes fissuras no tecido social – não
há”clima” propício a práticas de consulta, participação e diálogo social -
Nenhuma «varinha mágica» está ao nosso alcance para nos
fazer ultrapassar milagrosamente as imensas barreiras que se levantam, ou
mantêm, ao aprofundamento das liberdades, ao crescimento saudável das economias
de mercado, à generalização da justiça social.
Porém se não acreditarmos na capacidade do Homem, em que
devemos acreditar? Falo do homem concreto, cuja dignidade essencial é igual em
todo o lado, seja pobre ou rico, culto ou analfabeto, religioso ou ateu, homem
ou mulher. Essa dignidade só é atingível no respeito integral pelos direitos do
homem.
Não existe riqueza de uma nação com ambiente de degradação
social".
Lisboa 1992