"É imprescindível o diálogo Governo -
sindicatos. Do diálogo poderão resultar zonas de compreensão recíproca e a
resolução concertada de problemas que respeitem aos trabalhadores. Tal como
pode acontecer, muito legitimamente também, que se mantenham pontos de vista
diferentes. Tudo isto são fenómenos próprios de sociedades livres.
É bem verdade, no entanto, que a situação do
nosso País exigiria uma certa trégua social, voluntária e responsavelmente
assumida. Para tanto, será legitimo que o movimento sindical exija da política
governamental o máximo que esta possa dispensar em favor dos mais
desprotegidos, no âmbito das disponibilidades nacionais existentes que são
limitadas. E em contrapartida será também legítimo que o Governo espere do
movimento sindical a demonstração prática, e não meramente afirmativa, do
princípio de solidariedade nacional. Este é que parece ser o caminho da redução
das margens de conflitualidade social numa óptica de consenso democrático e
patriótico.
Não confundo este quadro com o dos confrontos
forjados ou das situações aproveitadas pela facção leninista do movimento
sindical português, em prol de objectivos que nada têm a ver com a democracia
pluralista e com as transformações sociais viabilizadoras de um projecto de mais justiça para todos os
portugueses. A resposta para essas situações, que não sejam as do legítimo
confronto e divergência democrática, tem que ser firme. Firme, neste duplo
sentido: usar a autoridade democrática ao mesmo tempo que se faz prova de que
se aplica uma política de claro sentido social."
Lisboa, Fevereiro de 1980