O mês de Maio de 2009, chega ao fim. De um
lado e doutro tudo foi esgotado. Não há volta a dar. Ao Henrique só resta agora
o caminho da renúncia ao cargo de Provedor de Justiça. Com dor, com mágoa,
tristeza, desilusão.
Mágoa, desilusão, tristeza, sim. Na origem da
situação que o empurra inexoravelmente para a renúncia está, ironicamente, a
ausência de valores pelos quais lutou toda a vida: entendimento, consenso e
compromisso. O Henrique sabia bem como, por vezes, os consensos são difíceis de
alcançar. Mas também sabia que a democracia supõe, e exige, precisamente uma
tolerância recíproca com vista aos entendimentos necessários.
Relendo hoje o património de palavras que nos
deixou impressiona-me a actualidade e a intemporalidade de muitas delas. Quem,
ao renunciar, invocou a necessidade de entendimentos e compromissos
parlamentares foi precisamente aquele homem que, na juventude da democracia do
nosso país, disse, enquanto Ministro do Trabalho: “Os bons negociadores não são os que, face às divergências que os opõe,
cortam o diálogo e correm a pedir auxílio. O recurso a essas instâncias só tem
justificação depois de completamente esgotadas todas as tentativas sérias de
acordo directo. É isto que distingue a negociação livre e responsável da
negociação tutelada. A negociação tutelada é uma manifestação de atraso cívico”.
É também o mesmo homem que em 1992 afirma “ Ser livre está impresso na alma dos homens”.
É ainda, o mesmo homem que, enfrentando os “constitucionalistas
de aviário” – “não pode renunciar” – responde assim: “ O meu acto de renúncia foi exercer o meu direito à liberdade. Quem quiser que me mande prender “