28 de Março de 2009. No Semanário “Sol”, um
artigo de Catalina Pestana, que, reproduzo, com a devida vénia.
“Perante a falta de respeito para com todos
os cidadãos deste país, para com a Constituição e para com o último
protagonista do cargo de Provedor de Justiça, este teve necessidade – em seu e
em nosso nome – partir o verniz e chamar os animais pelo seu nome próprio.
O Dr. Nascimento Rodrigues desempenhou
durante oito anos um alto cargo do Estado Português, que não dá direito a
vencimentos semelhantes aos dos gestores de empresas públicas, que não dá luzes
nas ribaltas mediáticas, mas dá aos cidadãos a convicção que existe um espaço,
por acaso na Lapa, onde alguém ouve as injustiças de que se consideram alvo. e
que lhes responde sempre.
O Provedor de Justiça, ainda em exercício de
funções, exerceu sempre o cargo de forma austera e discreta. Não criou factos
políticos, mas criou nos reduzidos serviços que dirigiu uma cultura de
persistência – que não permitia aos serviços públicos a que se dirigia fingir
que se tinham esquecido de lhe responder. O pedido de esclarecimento, a
adequação de horários, a alteração de funções de qualquer trabalhador que se
sentia lesado nos seus direitos de trabalho ou de cidadania quando não obtinha
resposta da Administração Pública, voltaria a chegar, na quinzena seguinte,
acompanhado da frase sibilina: Lamento
não ter recebido qualquer resposta de V.Exª sobre o assunto em epígrafe…
Água mole em pedra dura… ia muitas vezes furando as barreiras da indiferença,
ou estimulando o engenho e a arte de resolver os problemas, que a burocracia da
Administração Pública portuguesa cria, a quem a leva a sério. A falta de decoro
com que foi tratado este órgão da República é mais que uma afronta a um homem
que serviu dignamente o seu país num cargo de responsabilidade. É uma falta de
respeito por todos os portugueses. A existência do Provedor de Justiça é um
direito constitucional que uma parte do poder quis deixar cair de podre, sem
que o Zé Povinho desse por isso. (…)
O poder democrático pertence ao povo, o povo
delega-o naqueles em quem acredita que o exercerão em serviço da comunidade.
Parafraseando António Aleixo, “Vós que lá do Alto Império/prometeis um
mundo novo/cuidado não vá o povo/querer um mundo novo a sério”…
Assinado por Catalina Pestana. Publicado no
semanário “SOL” a 28 de Março de 2009