“ Nascimento Rodrigues, entendia
que o cargo de Provedor lhe impunha
uma matriz de perfil em que se entrecruza a serenidade da rectidão, a irrequietude do
combate, a solicitude do coração, a afabilidade no trato, a seriação do
Direito, e a ponderação da Justiça.
De uma forma
simples, mas enfática, interrogava um dia os senhores deputados reunidos na Comissão
de Orçamento e Finanças em audiência do Provedor de Justiça sobre « Relatório
de Inspecção aos Serviços de Finanças» em matéria de execuções fiscais: Qual
é a função nuclear do Provedor de Justiça em Portugal? E
a resposta vinha pronta, sem rodeios: A defesa dos cidadãos. Logo a seguir
o meu pai acrescentou: Ponto final.
Usava
frequentemente a imagem da Provedoria de Justiça como um “caleidoscópio” de
observação daquilo que os cidadãos sentem e do quotidiano do português, tal a
diversidade das queixas que recebia.
Foi diversas
vezes questionado sobre o modo parco e reservado com que comunicava mas quando
interrogado sobre as razões porque “fugia aos jornalistas” respondia: É a minha natureza. Nunca assumi este cargo
como um contrapoder. Prefiro uma relação de mútua cooperação porque quanto mais
intrusivo o Provedor for, menos hipóteses tem de resolver os problemas dos
cidadãos, que é o meu principal objectivo.
Numa outra
circunstância, ainda a respeito da cultura de cooperação que considerava
indispensável, referiu: (…) reputo como
indispensável que o Provedor de Justiça e as Administrações estabeleçam entre
si um quadro de relacionamento cooperativo, sistemático e frutuoso. Não
acredito muito que este objectivo se alcance a curto prazo, e menos ainda que
se atinja através de normas legais ou dispositivos regulamentares. Acredito mais nos homens, na sua lucidez
e na sua vontade esclarecida. Acredito mais nas políticas como instrumentos de
ordenação social e serviço de bem servir. Possivelmente com muita dose de
utopia. Mas a utopia também é necessária para que juntos – Provedor de
Justiça e Administrações – lutemos por uma efectiva e melhor cidadania no nosso
país, para os nossos cidadãos, para as pessoas.”
Sofia
Nascimento Rodrigues