“Nesta primeira entrevista desde que
tomou posse, saiba o que o novo Provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues
pensa, (…) das funções que exerce (…)”
Entrevista
a “O Diabo” 19 de Setembro de 2000
Sente que a figura do Provedor de Justiça
é incómoda para o sistema?
Nascimento Rodrigues – “ Sinto. Sinto-me incómodo para o
sistema, e não me importo de ser incómodo para o sistema, enquanto perceber que
o sistema não entende que deve reagir com muito mais rapidez e com muito mais
justiça perante o cidadão. Sinto-me incómodo para o sistema quando reclamo
porque é que ele não dá respostas ao cidadão, que é uma coisa elementar. Pode
dar uma resposta inclusivamente para dizer que o cidadão não tem razão. Isso é
pedagógico! Porque eu vejo os direitos dos cidadãos, mas também vejo os
deveres. Se a Administração entende que está a proceder bem, deve dizer isso. E
uma das coisas que eu mais verifico é que a Administração leva muitíssimo tempo
a responder.”
A Administração tem um “saco roto” onde
caem as reclamações?
Nascimento Rodrigues – “ Eu não sei se tem um “saco roto”, até
porque não tenho uma análise muito completa acerca do que é a nossa
Administração Pública. Eu venho da sociedade, não venho da comunidade jurídica
propriamente dita. Venho do mundo da sociedade real, e portanto tenho um pouco
o sentimento dos cidadãos reais. (…). Tenho a sensação que, em muitos
processos, as grandes Câmaras tratam mal os seus munícipes.
Que tipo de queixas são mais comuns
contra os órgãos autárquicos?
Nascimento Rodrigues – “ Tenho imensas queixas contra
licenciamentos que não foram autorizados. Ou contra licenciamentos que foram
autorizados sem serem “devidamente” autorizados…
Pressente um certo “compadrio” nestas
situações?
Nascimento Rodrigues- “ Não posso tirar conclusões… Mas pode
acontecer isso. E fico muito perplexo em relação a um tipo de reclamações,
quando nós perguntamos a uma Câmara porque é que este processo de licenciamento
foi concedido nestes termos irregulares – está detectado que foi irregular – a
Câmara responde: “ estamos a proceder à regularização”. Muito bem! Isso é
corrigir um acto que a Administração verificou que era ilegal, ou irregular!
Está certo. Mas quanto tempo leva a corrigir este acto irregular? Eu tenho,
nesta Provedoria, alguns processos com anos! Mas leva anos a corrigirem um acto
irregular? Nós vamos insistindo e a resposte é: “ agora, para efeitos de
regularização, pedimos mais este documento, ou mais aquele”… Isto é que eu
chamo, em linguagem corrente portuguesa “o embrulha”! E eu obviamente que aí
não vou ter contemplações. Eu vou perguntar às Câmaras quando é que elas
terminam os seus processos: que processos de contra-ordenação é que aplicaram
às pessoas a quem não licenciaram, ou licenciaram irregularmente; qual a coima
aplicada; quanto tempo levou o processo de contra-ordenação. Eu vou ser muito
incómodo nestes casos!
Pelo tom que usa, parece que passa por
aí alguma indignação… alguma surpresa…
Nascimento Rodrigues – “Na
minha vida profissional nunca tive contactos com Câmaras Municipais e agora
estão-me a passar estes processos pelas mãos e estou mesmo a ficar indignado, é
verdade!
IN “
O Diabo 3ª feira 19 de Setembro