“ A novela
arrasta-se sem fim. (…). Os líderes parlamentares dos dois partidos têm
conversado sobre o assunto – até recentemente, na sequência do enésimo protesto
de Nascimento Rodrigues – mas fumo branco é que nem vê-lo. (…) O impasse dá um
péssimo exemplo à Administração Pública. Se os políticos remetem a questão para
o baú dos pendentes, apesar de Nascimento Rodrigues insistir na premência de
passar a pasta, porque tem a Administração Pública de dar resposta aos
requerimentos do Provedor, que tantas vezes olha de soslaio e encara como um
intrometido?
Nascimento
Rodrigues, é justo reconhecê-lo, levou a peito a independência que o sistema
proporciona ao cargo, aliás na esteira dos seus antecessores. Exerceu funções
como efectivo defensor dos cidadãos, doesse a quem doesse. Não concentrou exclusivamente
esforços na correcção de abusos cometidos por serviços públicos; usou até ao
limite os instrumentos de intervenção que a lei lhe confere, chegando a
penetrar em domínios que já se encontram na fronteira da esfera política.
Desferiu, por exemplo, um fortíssimo ataque ao Estatuto Político-Administrativo
dos Açores. (…) O estatuto, é sabido, recolheu inicialmente o beneplácito de
todo o espectro parlamentar. (…) É por isso legítima a suspeita de que
socialistas e sociais-democratas andam a encanar a perna à rã não porque
desejem encontrar uma personalidade forte para tomar o lugar de Nascimento
Rodrigues, mas precisamente pelo contrário. (…). Na versão conspirativa,
enquanto o pau vai e vem esvazia-se o cargo de prestígio (e talvez mesmo de
eficácia). Numa versão mais benigna, mantem-se o dossiê em banho maria para que
Nascimento Rodrigues – refém que é de estratégia alheia – sinta que a cada dia
que passa se perde mais uma fatia da dignidade institucional do cargo.(…)”
Excerto do
artigo, “Um provedor fora de prazo”, de Paulo Martins, chefe de redacção
adjunto do Jornal de Notícias
In “ JN 29 de
Março de 2009