(…) Uma
economia sã não é apenas uma economia competitiva. É também, e necessariamente,
uma economia de solidariedade humana, uma economia do homem e para o homem. Não
é pensável regredir a épocas de escravatura e a tempos de exploração. Os
direitos do homem não são apenas políticos, económicos e culturais. São também
sociais. Onde não houver direitos sociais, não há verdadeira democracia, não há
dignidade humana.
Enganam-se
aqueles que pensam que o desabar dos “muros de Berlim” representou o triunfo do
capitalismo puro e duro. Representou apenas, e felizmente para a humanidade, o
desaparecimento de uma forma intolerável de totalitarismo e de exploração de
milhões de homens e mulheres por um aparelho asfixiante de burocratas. Não se
caia, porém, no erro grosseiro de se imaginar que a liberdade pode subsistir
sem a justiça e a solidariedade social. (…).
Já temos
hoje, por essa Europa fora, alguns milhões de desempregados, legiões de novos
pobres, cortejos de marginalizados, mafias de corrupção. Entendo, por isso, que
a democracia exige, cada vez mais, transparência, diálogo, concertação,
informação séria, consulta cooperativa e construtiva. E quando digo isto
refiro-me tanto à democracia política como à democracia industrial. Alternativa
a isto seria a perda da própria democracia e da liberdade. Pessoalmente, ser-me-ia de todo indiferente que as vagas dos
descamisados, criadas pela desordem e pela injustiça de democracias que não
teriam sabido preservar e melhorar valores éticos e sociais, viessem a marchar
cantando “slogans” em defesa de novos “ismos”. Teriamos então de recomeçar o
combate da luz contra as trevas. Mas a minha palavra final não aponta nesse
sentido de desesperança. Pelo contrário: estou confiante que a Europa, e em
especial, nós portugueses, saberemos mudar, renovar e progredir económica e
socialmente, política e culturalmente, no espírito humanista e de tolerância
que nos individualiza e caracteriza – como um pequeno País, uma grande Nação e
um Povo digno.”
“ As relações
profissionais em tempo de crise: Desregulamentação ou Concertação Social?”
I Jornadas do
Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho.
Luso, 14 de Dezembro
1993-