Em 1991, numa entrevista subordinada ao tema, “ Quadros que foram
Quadros que são,” o Henrique responde assim à “Revista dos Quadros Técnicos do
Estado”.
Pergunta - O seu nome é mais conhecido como figura pública do que como
quadro da função pública. Qual o seu “curriculum” na Administração Pública”?
Resposta – “Entrei,
recém-licenciado, para o então Fundo de Desenvolvimento da Mão de Obra, como
técnico tarefeiro de 3ª classe. Isso foi em 1964. O F.D.M.O era um organismo
jovem, sem bloqueamento de carreira. Lá fiz o meu percurso técnico e de
dirigente, sucessivamente promovido a técnico de 2ª classe, de 1ª e técnico
superior, contratado. Chefiei a Divisão de Contratação Colectiva e só entrei
para o quadro como Director de Serviços do Trabalho. Pedi licença ilimitada em
Setembro de 1974 e vim-me embora. Como vê, tenho a “tarimba” de função pública”.
Pergunta – E foi-lhe fácil largar dez anos de Estado?
Resposta- “ Não foi fácil e
foi até ousado no contexto específico que o País atravessava nessa época. Mas
entendi que esse mesmo contexto já não me proporcionava qualquer realização
pessoal e profissional. Além disso não estive para suportar oportunismos e
incompetências chocantes a que assistia e não estava habituado. A Administração
Pública em que me formei era, no plano técnico, bastante competente, séria e
empenhada”.
Pergunta – É diferente a sua visão do sector empresarial?
Resposta – “ Estou muito
longe de perfilhar uma visão idílica do sector empresarial, público ou privado,
por contraposição à que faço do Estado. A minha experiência diz-me que num e noutro
sector se encontram técnicos muitíssimos competentes, tal como pode
encontrar-se o inverso. Aliás, o frequente é constatar-se o recrutamento de
quadros do Estado pelas empresas sinal de que aqueles são válidos. O problema
não reside, portanto, na capacidade técnica dos quadros da função pública. De
um modo geral é seguro que a detêm. Penso que a diferença maior radica nos
diferentes modelos de organização e dos correspondentes valores, nos métodos de
gestão e nos processos de actuação. Não se pode generalizar, porque nem o mundo
empresarial é homogéneo, nem a Administração é um bloco fechado e sem brechas.
Mas nas empresas, porque são obrigados a competir e a desenvolver-se os quadros
adquirem uma visão e um ritmo profissionais mais pragmáticos, mais expeditos,
mais traduzíveis em resultados concretos”.
In “ Revista dos
Quadros Técnicos do Estado”
Ano VI
Série II nº 4- Julho/
Agosto 1991