Estamos em 1959. Toda a África
está em convulsão. Em Accra, tem lugar a “conferência dos povos de África”. Em
Angola, as forças nacionalistas, aproveitam o evento, para com o apoio das
populações dos musseques de Luanda se manifestarem nas ruas. Português de
nacionalidade, Angolano de coração, o Henrique, que frequenta o 2º ano da
Faculdade de Direito não aceitava estas “lutas de libertação”. Dirá, quarenta
anos mais tarde, (1999, um ano antes de ser eleito, pela primeira vez, Provedor
de Justiça”): “Havia que libertar-se os
povos negros evidentemente (…) Mas
que não se atrevessem a fazer obstáculos àquilo que para mim era evidente –
Angola independente, com negros, brancos, mestiços, católicos, protestantes,
animistas.(…) E, sobretudo, se era uma questão de liberdade, jamais se poderia
colocar como se colocava, o problema em termos de comunismo versus
capitalismo.(…) Envolvi-me nessa independência de Angola. Estudei, reflecti,
fiz parte de grupos, declarei que as coisas não podiam continuar assim.(…)”
Estudou, reflectiu, fez parte de
grupos, declarou, por escrito, que as coisas não podiam continuar assim. Estávamos
em 1959. O nosso Ouvidor tem uns verdes 18 anos mas avisa, e, recomenda:
“O problema africano está a assumir uma importância tal que a não o
tomarmos, já, como o alvo dos nossos melhores esforços, corremos o desagradável
risco de, quando o quisermos fazer, estarmos em condições francamente
desvantajosas. Por isso mesmo, uma coisa não me levanta dúvida nenhuma: nós
temos de agir, já, antes que as circunstâncias se venham sobrepor aos nossos
desejos. Agir - mas com eficiência, decisão inabalável e conhecimento de causa.
É um ponto que não deveria admitir contestação, quando, por toda a África, se
está estendendo um precipitado movimento contrário à permanência europeia.
Outrora, fomos o primeiro povo a lançar até aos recônditos dos sertões
ignorados, uma grande cruzada humanitária: hoje – porque não dizê-lo? - de pouco nos valerá, na prática, arrimarmo-nos a
tão brilhante passado histórico, se o não conseguirmos repetir perante os
condicionalismos actuais. Não podemos pensar, por mais optimistas que o sejamos,
na obtenção de um êxito total para semelhante empresa, se ao nosso ultramar não
formos dedicando, tanto mais rapidamente quanto é necessário toda a nossa
capacidade. Nele existe, sem dúvida, o mais auspicioso potencial de
engrandecimento pátrio, razão de onde deriva a necessidade imperiosa de a nossa
política ultramarina se dever revestir de um acentuado cuidado e necessitar por
isso de uma realização urgente."
Lisboa 21 Fevereiro de 1959 In “ Diário da Manhã”
Lisboa 21 Fevereiro de 1959 In “ Diário da Manhã”