“ Há anos, na noite de Natal, numa cubata do
mato angolense, uma família de tribo indígena, em cujos corações já soara a
mensagem divina através da palavra portuguesa, celebrava, na sua ingenuidade
pitoresca, o nascimento do Filho de Deus, à maneira da civilização cristã.
Havia uma nota originalíssima no figurativo
quadro clássico. Ao canto da cubata estava construído um pequeno presépio feito
de adobe, com capim e folhas de palmeira, com os reis magos e pastorinhos e,
deitado em esteira de bambu, o monandengue Jesus, boneco feito de pau pintado de
preto.
Eis o milagre de amor no Natal de Cristo
Há vinte séculos Jesus Cristo nasceu, numa
manjedoura, em Belém da Judeia. Mas todos os anos através dos tempos, neste
dia, ele nasce nos palácios sumptuosos e choupanas da Ásia, nas vivendas ricas
e casinhotas da Europa, nos arranha-céus colossais e bairros pobres das
Américas, nas cidades e vilas de África, sob a música dos sinos e das harpas, e
já nas sanzalas típicas da África Negra ao som de quissanges e marimbas.
Na materialidade exótica, aquele quadro da
cubata revelava a verdade eterna do espírito, não ofendida nem falseada: Jesus
nasce no coração de cada ser humano, em todos os povos e raças, porque Ele é,
milagrosamente, o Deus-Menino de toda a gente”.
Geraldo Bessa Victor (1917- 1990)
Nasceu em
Luanda. Faleceu em Lisboa
Escritor, poeta, ensaísta e jornalista. Fez o Liceu
em Luanda. Licenciou-se em Direito em Lisboa.