“Estou bem de saúde, aliás parece que o paludismo está quase
erradicado. Por outro lado, o clima é bom pelo menos em comparação com a Guiné Bissau.
Há mudanças frequentes de temperatura entre a cidade e a Pousada. Lá em baixo
faz mais calor, cá em cima quase sempre é fresco e, até, enevoado. Alguns dias
tem chovido quase todo o dia. À noite durmo com cobertor. A alimentação tem
sido bastante razoável. A Pousada é o melhor que têm, só alguns estrangeiros
vêm para cá, de modo que só falta aquilo que não se pode mesmo arranjar. Por
exemplo, faltou a cerveja no país, não há cerveja em São Tomé, mas, aqui, temos
cerveja da Rep. Dem. da Alemanha. A carne também é deste país (congelada),
quando não servem frango ou cabrito. Enfim, no aspecto de clima, instalações e
alimentação pode considerar-se tudo muito razoável (na Pousada). Quanto ao
resto é que é diferente da Guiné Bissau.. Têm-me tratado com muita correcção e
algumas facilidades (o jipe do M.do Trabalho vem buscar-me de manhã e trazer-me
ao almoço). Tenho ocupado as partes da manhã em visitas às empresas e as tardes
fico na Pousada. Julgo que a partir de amanhã começarei a ocupar as tardes no
próprio Ministério do Trabalho onde (parece) terão, finalmente, arranjado um
sítio onde me instalarão. Quer dizer, neste aspecto, sinto um certo isolamento,
que possivelmente poderá desaparecer. Não ouvi notícias nenhumas de Portugal e
desde domingo que não falo com o Embaixador. Será que já se realizou o Conselho
Nacional de Viseu? Ter-se-á passado algo de decisivo? Não acredito muito…
Cada vez me convenço mais de que
não estamos a saber ocupar o nosso lugar no relacionamento com África. Aqui há muitos peritos internacionais, das
mais variadas nacionalidades (portugueses, poucos). Depois de amanhã chega um
perito brasileiro que também vem para assistência técnica ao MT (higiene e
segurança no trabalho).
O tempo custa um pouco a passar, sobretudo pelo isolamento da Pousada e
falta de contacto com não profissionais. É a parte que mais me tem custado. Estou
com curiosidade em ver como vai perspectivar-se e a continuação deste projecto,
pois é evidente que terá de ser prosseguido. Trata-se, por ora, de uma missão preliminar
ou preparatória. Creio que vai haver “chances” de continuação, mas não estou
certo.
Ainda falta muito para 13 de Dezembro e por isso é preciso ter
paciência. Ao menos se eu engordasse….!”
São Tomé 21 de
Novembro 1984