O dia da chegada - a preto e branco
“Cheguei ontem, (dia 14 de Novembro), depois de uma viagem morosa, mas
sem história. À chegada, estavam à minha espera dois funcionários superiores do
Ministério do Trabalho, muito novos ainda. Demorei cerca de duas horas para
sair do aeroporto. Gira tudo com muito vagar. Depois levaram-me às NU (ONU),
onde me apresentei. Sugeriram que eu ficasse num quarto do que, pomposamente, é
chamado o “Guest House”. Bom, são uns apartamentos compostos de quatro
miseráveis quartos, com uma única casa de banho para todos. O meu quarto era
mesmo muito mau, nem uma pensão de terceira classe em Portugal. Fiquei muito
mal impressionado. Nem mesmo uma mesa no quarto para trabalhar, nem um sítio
para pôr o casaco, etc. O único “luxo” era uma ventoinha! A vantagem, em
contrapartida, é estarem situados na cidade. Desta vez, até agora pelo menos,
não tenho carro à disposição. A grande diferença em relação a Bissau é essa:
aqui sou tratado (até agora) como um perito internacional, e há muitos. A
diferença de acolhimento é como do dia para a noite, em relação à experiência
na Guiné. Depois, constatei que também não dispunha de nenhum gabinete ou
secretária para trabalhar no Ministério do Trabalho. Perante isso, disse que,
uma vez que grande parte do meu trabalho é de análise da legislação e recolha
de dados precisava de me transferir para a Pousada, para poder ter uma mesa e
melhores condições de trabalho, sob pena de não me responsabilizar por…. não
fazer nada. Bem esta “ameaça” decidiu os funcionários do Ministério do Trabalho
a permitirem que eu viesse, hoje para a Pousada.”
São Tomé 15 de Novembro 1984.