NÃO!
“Não quero ir fazer a sesta”.
Estamos em Cabanas e os beliches de pintura alentejana são as minhas mais
antigas memórias. Como aquelas do teu kimbo que nos contaste no teu blogue.
Foi preciso ler o teu blogue para
as conhecer. E de Cabanas também nunca te falei. Nem de me sentar na garagem no
Ferrel ao volante do teu Renault parado a guiar a minha vida e ser importante
como tu. Ou muito tempo antes ao volante do carro de pedais em Azeitão teria eu
então 4 anos.
São algumas das memórias de que
agora falamos para te ter mais perto de nós. Nestes segundos depois
lembramo-nos dos anos antes. E lembro-me das fondues, de vermos os Jogos sem
Fronteiras, de correr à volta da casa em brincadeiras de miúdos. E vocês estão
sempre presentes. Vocês também são o Pai. Vocês são as peças do puzzle que me
constroem. As nossas memórias. As nossas vitórias. Os nossos desencantos. Vocês
meus irmãos, são a minha vida. E hoje na morte do pai isso é cada vez mais
claro, apesar das lágrimas que nos turvam a vista. As paredes frias cobrem o
nosso abraço e choramos com ele:
“Ele vai estar sempre connosco”.
As paredes frias não estão lá
quando lhe tocamos o rosto gelado para lhe dizer adeus. Mais uma peça. Mais uma
memória.
Como a memória das grades de
sumol que partilhávamos no Ferrel naqueles dias que passávamos juntos. Mas
convosco todos os dias são para festejar. Festejar esta dádiva que ele nos deu.
De sermos nós, cada um por si, mas todos juntos nas memórias passadas e no
caminho futuro. Aquele que vamos fazer para lá das paredes frias. Sempre em
conjunto.
E era isso que ele queria que
fosse a nossa memória. Por isso não valia a pena falar das outras.
Este texto foi escrito pelo nosso filho Nuno no dia em que o pai morreu a 12 de Abril de 2010