Nos próximos posts falaremos dos
Trabalhadores Sociais-Democratas através de textos do Henrique. Só assim
poderemos compreender 1984 e explicar:
1. Porque abandona o Henrique a comissão
política nacional do PSD (era vice presidente eleito em Montechoro),
2. Porque corta com Mota Pinto,
3. Porque nem sequer está presente no
Congresso de Braga.
Em 1984 coexistiam no PSD duas
sensibilidades laborais: os sócio - profissionais nascidos no 1º Congresso do
PSD, a 26 de Novembro de 1974, (instituídos como estrutura partidária), e a
TESIRESD, tendência sindical independente do partido, criada em 1978.
“A
Tesiresd foi formalmente constituída no 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores
Sociais - Democratas, efectuado no Porto, em Outubro de 1978 após um processo
acidentado. Com efeito, embora a organização e a instituição formal da TESIRESD
estivesse pensada (e tivesse sido efectivamente lançada) com independência e
com antecedência em relação a qualquer outro projecto de organização sindical,
o certo é que o anúncio da criação do que viria a ser a UGT e o nascimento
concreto desta no encontro de Lisboa em 1978, provocou um deslocamento da
tónica inicial do projecto TESIRESD. Deslocamento, na medida em que a um
projecto originariamente concebido no exclusivo sentido da organização de uma
tendência sindical, no caso a social-democrata, que, assim, se pensava ir
constituir o elemento dinamizador e catalizador de uma plataforma de unidade
sindical democrática, a concretizar posteriormente com outras tendências, como
a socialista – se sobrepôs a necessidade de assumirmos posição face à entrada
imediata dos sociais-democratas na anunciada UGT, de iniciativa socialista.
Rigorosamente os dois projectos não eram, com não são, incompatíveis.
Pelo contrário, eram e são indissociáveis, pois a organização e o reforço da
TESIRESD significam e exprimem o poder dos sindicalistas sociais-democratas no
seio de uma confederação sindical que, sem eles, teria e tem fracas
possibilidades de implantação.
Mas a imcompatibilidade foi suscitada com base no argumento de que só após
a constituição formal e a efectiva organização da TESIRESD seria lícito e
conveniente pôr a questão da entrada dos sociais-democratas na UGT. É evidente
que o argumento escondia, no fundo, a tentativa de obstar à unidade com a
tendência sindical socialista, como forma não tanto de inviabilizar uma posição
na UGT de pendor acentuadamente socialista, como, sobretudo, de ganhar tempo e
criar espaço para a constituição de uma central de predominância social-
democrata. (Quando não, mesmo, como forma de não deixar criar nada, ou seja,
como forma de manter o monopólio da Inter).
A TESIRESD não nasce sob o signo do apoio inequívoco da
totalidade (e talvez mesmo de uma maioria significativa) dos trabalhadores
sociais-democratas, como tendência social democrata plenamente integrada na
UGT; antes nasce como tendência que alberga tanto os que estão contra como os
que estão a favor da UGT, estes últimos embora “militantemente maioritários”.
Há razões para supor que se mantêm certas oposições, dentro do Partido,
à TESIRESD e à UGT e permanece um estéril e por vezes desgastante confronto
entre a estrutura dos sócio-profissionais do PSD e a TESIRESD. E mesmo órgãos e
dirigentes do partido que não são contra estes nem contra a UGT não são também,
em contrapartida, suficientemente sensíveis e abertos – como seria indispensável num partido social-democrata –
à problemática sindical”.
Manuscrito datado de 1980