“Tempo”- O Congresso dos trabalhadores Sociais-Democratas vai ter lugar
esta semana e parece existir da parte de dirigentes e estruturas do PSD um
largo apoio, expresso ou tácito, às soluções que se anunciam. O dr. Nascimento
Rodrigues é vice-presidente do PSD, um dirigente que veio do mundo sindical e
laboral. Tem estado calado. Esse silêncio é também uma forma de apoio?
Nascimento Rodrigues- “Apoio a
realização de um congresso democrático de todos os trabalhadores
sociais-democratas, e não apenas dos sindicalizados, que conduzisse
voluntariamente ao termo de uma divisão que, sobretudo nos últimos anos, se
acentuou por forma desastrosa e altamente prejudicial para os interesses da
unidade dos trabalhadores que reclamam da social-democracia, para a força da sua
implantação no mundo sindical e nas empresas e para a influência responsável
que deles se espera na política de defesa do sindicalismo livre e da melhoria
progressiva das condições de trabalho de todos os portugueses.
Desejaria ardentemente o fim dessa divisão entre socioprofissionais e
TESIRESD. mas nunca à custa de princípios e valores da Liberdade, da
Democracia, da Social-Democracia e da tradição civilizada do movimento
sindical.
Por isso, não apoio e contesto com toda a veemência uma solução abastardante
desses princípios e valores, que eventualmente seja aprovada no Congresso dos
TSD. E tudo o prenuncia.
Eu afirmo, e desafio alguém a provar o contrário, que a criação de uma
estrutura partidária com finalidades sindicais e laborais é um aborto de concepção
e um esquema de solução que vai contra o programa do PSD, que viola convenções
da Organização Internacional do Trabalho e Pactos Universais de Direitos
Fundamentais do Homem, que se situa ao arrepio da emancipação organizativa dos
trabalhadores do mundo livre e que pode constituir, ainda, um precedente de
consequências nefastas para a orgânica sob que se criou o PSD como partido
popular, democrático, nacional e interclassista. Trata-se de uma questão muito
importante. Para o regime democrático, para o sindicalismo livre, para a
fisionomia do PSD. E por isso não só é legítimo, como é sobretudo um dever dos
dirigentes partidários, tomar posição clara a este respeito.”
Tempo- Mas não corre o risco de estar sozinho nessa opinião? Não é
certo que os outros dirigentes nacionais e locais do PSD apoiam?
Nascimento Rodrigues-“ Não
verifiquei que a maioria dos dirigentes do partido tenha exprimido já a sua
opinião. Não será lícito, pois, retirar desse silêncio índices ou provas de que
apoiam ou não apoiam. Tanto quanto me lembro, apenas a JSD tomou já posição
nítida em defesa da não partidarização e independência sindical. Não creio
portanto que a minha opinião seja isolada. E que o fosse? Só nos partidos
totalitários e uniformistas é que é crime a divergência de opiniões. Exerço o
meu direito de opinião, que expresso por forma firma mas com respeito por
todos. Nada mais.”
IN “ O Tempo” 5 de Janeiro de 1984