“Ao retirar-me da sala na última reunião da CPN, imediatamente após a
votação do projecto de alteração dos estatutos do Partido referente à
institucionalização dos TSD, exprimi o estado de espírito que essa questão, e
sobretudo a votação ocorrida, me suscitaram.
…….
Permito-me recordar-lhe, antes de mais, que há muito tempo já,……
esclareci sempre que uma votação favorável da CPN sobre os TSD como estrutura
partidária me obrigaria à renúncia do cargo para que fui eleito. Nunca fechei
portas a qualquer solução, salvo a da monstruosidade de se aprovar um organismo
partidário com finalidades sindicais e outras que, na prática, não têm nada a
ver com co-gestão nem com sindicalismo. De facto, quando se actua para
pressionar a designação de gestores públicos, para influenciar a nomeação em
vários cargos de empresas públicas, ou da Administração, ou para exercer o
papel de grupo de pressão corporativa dentro do partido, é preciso um grande
esforço para fingir que está em causa apenas a questão da unidade de grupos
sindicais ligados ao nosso Partido. Mas esta é a questão de fundo dos TSD, a
que, agora não desejo voltar senão para recordar o que foi sempre a minha
posição e o aviso leal, claro feito em tempo sobre as consequências que
retiraria do beneplácito de outros dirigentes do Partido a tal estrutura……
A carta continua por seis longas páginas….
“ Neutralidade, foi sempre o que aguardei de si e o aconselhei a
seguir, em homenagem aos interesses da sua liderança e do equilíbrio no
Partido. Nunca pretendi que o Mota Pinto se declarasse e votasse a favor de uma
das partes. Intentei sempre resguardá-lo nesta questão, mesmo em prejuízo
manifesto da minha própria e bem conhecida opção. Não estou certo que outros o
tenham feito. Mas é também pelos processos que se conhecem as pessoas e os
objectivos……..
“Não me recusará ….. de considerar-me inviabilizado de manter uma
solidariedade e um apoio não apenas a si como a alguns dos companheiros que
mais estreitamente o rodeiam. Não se pode fugir às consequências das situações
que se deixam criar”.
E termina:
“Devo-lhe, como última palavra,
um agradecimento muito sincero pela intervenção a que acedeu e que proporcionou
ao Partido os resultados inestimáveis das últimas legislativas e um sopro muito
grande de esperança. Estou convicto de que o Mota Pinto mantem potencial para
continuar a protagonizar a liderança que os nossos militantes ambicionam. Não
se trata de um elogio, descabido nas actuais circunstâncias, mas da verdade tal
como a sinto. É essa mesma verdade que me leva também a sublinhar, por outro
lado, o sentimento de enorme e angustiada preocupação por verificar que
companheiros nossos, cuja isenção e lisura política são incontroversas estão a
afastar-se do seu rumo. O meu desejo é de que o Mota Pinto consiga agrupá-los e
liderar, não uma parte mas um conjunto expressivo do que melhor existe e
simboliza o PSD como partido contra extremos.
É esse o voto que lhe deixo, na certeza de que o exprimo em função dos
interesses do Partido e da estima e grande respeito pessoal por si”.