“O Tempo”- Bem dr. Nascimento Rodrigues, mas que razões mais concretas
aponta contra o Congresso dos TSD? E porque só agora o faz?
Nascimento Rodrigues -“ Não,
já disse que não estou contra a ideia da realização de um
congresso democrático de todos os trabalhadores sociais-democratas que pudessem
superar a divisão, a sangria de esforços e os conflitos pessoais entre
trabalhadores sociais-democratas. Todos os militantes do PSD o desejam. O ideal
seria o reencontro numa estrutura única
com finalidades sindicais e laborais, no seio da qual se confrontassem leal
e democraticamente as divergências quanto a objectivos, estratégias, táticas e
preferências de liderança. Mas essa não
pode com tal finalidade, ser uma estrutura do próprio PSD. Aí é que está o
fulcro da questão. As coisas são simples: não pode haver identificação entre
funções partidárias e funções sindicais. Partidos
políticos são uma coisa, organizações sindicais são outra. Esta é uma aquisição
consumada do pensamento democrático e uma herança irrenunciável da marcha de
emancipação histórica dos trabalhadores, na liberdade, na independência e na
responsabilidade.
Não é exacto que só agora me pronuncie sobre este assunto. Na Comissão
Política Nacional disse, oportunamente, qual a minha posição e que atitude me
reservava o direito de tomar caso o partido consentisse na criação de uma
estrutura partidária com finalidades sindicais. E também em entrevista ao “Povo
Livre” de 14 de Setembro último referi-me ao assunto de modo a não deixar
margem a dúvidas. É certo que fiz tudo isso no interior do partido, como tem
sido a linha da minha conduta.
Como vice-presidente do PSD desde
1980, sempre entendi que tais funções me impunham uma estrita e autêntica isenção
face às controvérsias e lutas que se foram avolumando entre as duas estruturas
de trabalhadores sociais-democratas. Porque sou originário de uma delas, a
TESIRESD, maior a obrigação que senti de não interferir. Tenho a consciência tranquila a esse respeito.
Neste momento, eleitos que estão os delegados ao Congresso dos TSD, conhecidas
e discutidas em reuniões preparatórias as moções, já assumidas decerto as
preferências dos próprios participantes ao Congresso, seria ridículo
considerar-se como interferente nesta altura a expressão pública da minha
opinião.”
IN “ O Tempo” 5 de Janeiro de 1984