“ Jornal de Leiria - O que sentiu quando saiu de Angola para estudar em
Lisboa?”
Nascimento Rodrigues – “Nasci
em Angola e ainda hoje sou bastante marcado por África. Tive uma enorme
dificuldade na adaptação a Portugal, no final do primeiro ano do curso escrevi
ao meu pai a pedir para regressar. Não queria continuar, porque não conseguia
adaptar-me ao clima, que considerava siberiano, a chuva deixava-me deprimido.
Quando acabei o curso, sempre tive a ideia de regressar a Angola. Namorava,
queria casar-me e a minha mulher estava no 5º ano de Medicina, de maneira que decidi
ficar em Portugal mais dois anos. Comecei por fazer estágio na magistratura.
Quando acabei, e para começar a trabalhar na magistratura, ia parar ao Corvo ou
Boticas ou coisa do género e para mim não dava casar e deixar a mulher em
Lisboa. Comecei então a trabalhar para o Estado, no chamado Fundo de
Desenvolvimento da Mão-de-Obra. Era um serviço novo, criado no âmbito do actual
Ministério do Trabalho e dirigido pelo dr. Pereira de Moura. Foi aí que comecei
a minha carreira profissional e a orientar-me para as questões do Direito do
Trabalho. Com o casamento, a minha mulher a tirar a especialidade, e os
primeiros filhos, começou a esvair-se a ideia de regressar a Angola. Mas nunca
perdi o bichinho de África”.
JL – Mais tarde volta a
trabalhar com países africanos. Como é que foi essa experiencia?
Nascimento Rodrigues- “Em Maio de 1986, o engº Mira Amaral, na época
ministro do trabalho convidou-me a iniciar a cooperação com os ministérios do
trabalho de todas as nossas ex-colónias. Porque até aí as relações entre
Portugal e as ex-colónias não eram abertas. Então criei um gabinete que
trabalhava directamente com o ministro e iniciei a cooperação com países
africanos de língua portuguesa. Em 1989, foi a primeira vez que em Portugal se fez um encontro de Ministros do Trabalho de
todos os Palop com o correspondente português”.
JL – O futuro e o desenvolvimento de Portugal passam por África?
Nascimento Rodrigues- “Sou um
adepto da integração de Portugal na União Europeia, foi uma solução quase
inevitável. Mas esta solução será tanto melhor quanto Portugal puder ter laços
com África, com o Brasil e com países da América Latina. Teremos mais força e
seremos mais ouvidos pelos países europeus”.
IN “ Jornal de
Leiria” 24 de Janeiro de 2002