Em Setembro de 1994, o Henrique
responde a perguntas do jornalista da APG (Boletim mensal da Associação
Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos).
Pergunta- “Como pensa que tem evoluído qualitativamente a gestão de
recursos humanos em Portugal? Será que estamos a entrar numa nova era em que se
dará prioridade às pessoas e se combaterá a exclusão?”.
Nascimento Rodrigues- “ Sem
dúvida, tem havido uma evolução qualitativa.
Mas falta ainda um longo caminho a percorrer. É pacífico o entendimento de
que a valorização dos recursos humanos é
o instrumento mais eficaz que possuímos para operacionalizar o processo
económico e o desenvolvimento social. A grande aposta tem que situar-se aí, na
área da educação e da formação. Mas isso não basta, conquanto seja
indispensável. É também necessário saber gerir bem os recursos humanos mais
qualificados, porque a mais valia obtida através da resposta a que me referi vai exigir uma gestão qualitativamente
diferente daqueles recursos.
Desde logo, porque estes, sendo
mais qualificados, não aceitarão uma gestão menos apta, acomodatícia,
ultrapassada no tempo e desligada dos novos valores da dobragem do século.
Também, porque a própria gestão tem de aperceber-se, em tempo útil, de
que ela própria não pode deixar de se adaptar aos desafios que já aí estão e
continuarão, nos próximos, a confrontar-nos com exigências de flexibilidade
mental, antecipação de medidas, criatividade nas soluções, diálogo permanente (e
paciente…) com os outros, enfim, qualificação contínua e responsabilidade
atenta.
A gestão dos novos recursos
humanos implicará, por isso, novas exigências no estímulo a criar nas pessoas,
no encorajamento à sua inovação e responsabilização acrescidas, na obtenção de
melhores níveis de qualidade (no trabalho, nos produtos, nos serviços).
Implicará também, uma perspectiva lúcida quanto às consequências do
processo de internacionalização da economia e dos seus reflexos nas empresas. Alguns
destes poderão ser dolorosos e nem todos serão fáceis. A gestão dos recursos
humanos tem de ser a protagonista de uma mudança económicamente necessária e
socialmente não excluente.
Na maioria das nossas empresas, que são PME, não se pode falar, própriamente,
de uma gestão de recursos humanos, como provavelmente não se pode falar de
inovação nos produtos, de marketing, de boa gestão de stocks, ou de correcta
avaliação de novas oportunidades de negócios e de novos mercados.
Nas empresas de maior dimensão, a
gestão dos recursos humanos vai ter de enfrentar os problemas que atrás aludi.
Espero bem que o eixo prioritário seja o de se fazer um esforço para reter as
pessoas e não para as dispensar, salvo
em situações de ausência total de outras alternativas préviamente procuradas.
Mas também vai implicar que as pessoas entendam que, sendo o emprego um bem precioso, têm de saber defendê-lo, não através
de atitudes conservadoristas e de pura oposição às mudanças necessárias. O
diálogo, a informação e a consulta, a formação para a mudança, em tempo útil,
têm, aqui, um papel decisivo”.
In “APG” nº 5
Setembro 1994