Em Fevereiro de 1995, o então líder do PSD e Primeiro Ministro, anuncia
a sua intenção de abandonar a liderança do partido e, consequentemente, não ser
candidato a 1º Ministro, nas legislativas de Outubro. A 16 de Fevereiro o
Henrique publica um artigo de opinião, intitulado: “O meu voto”:
“ A nossa vida partidária tem revelado como são turbulentos os
processos de sucessão dos líderes históricos, e muito pouco pacíficos os dos
dirigentes que lhes sucederam mesmo quando as novas lideranças foram encabeçadas por homens de irrecusável prestígio cívico, intelectual e político.
A decisão de Cavaco Silva não pode, deixar de criar aos
social-democratas uma situação de evidente dificuldade. Não é fácil para
qualquer partido encontrar em tão pouco tempo um novo líder e candidato a
primeiro- ministro. Os portugueses percebem essa verdade. (…)
O partido enfrentou com mágoa mas com respeito a decisão de Cavaco
Silva e partiu com coragem e alma para o processo de competição interna. É
positiva a forma como este se tem desenrolado, sem ataques pessoais
deslustrantes entre os candidatos, sem lutas intestinas dissolventes, com uma
mobilização enorme. (…)
Devemos entre nós pensar o Portugal do novo século e conceber a nossa
proposta de um grande projecto colectivo para os portugueses. É realista
admitir que dentro de poucos anos se terá esgotado o ciclo de fortes apoios
comunitários, que é já para amanhã a discussão do perfil institucional da
Europa do futuro e que devemos empenhar-nos nela com o sentido da lusofonia,
sem o qual nos arriscaremos a ser Europa periférica, mas nunca o Portugal
europeu andarilho que se fez da mestiçagem de culturas e da convivialidade dos
povos. (…) São inevitáveis, pois, respostas de recriação do pensamento e na
acção. (…)
O nosso entendimento é o de que o País precisa de estabilidade. Sem
estabilidade política esboroam-se todos os programas, por válidos que sejam,
torna-se inviável seguir uma linha de rumo sem zigue-zagues, cujos custos
pagaremos colectivamente.(…)
Recuso qualquer propósito de separar o PPD do PSD. Ele atentaria contra
os seus valores fundamentais e o seu percurso histórico. Somos um só partido.
(…)
Exerço a minha escolha partidária, escutados todos os candidatos, após
ponderar qual aquele cuja trajectória no PSD e perfil governativo me parecem
mais adequados.”(…)
Lisboa, 5ª feira, 16
de Fevereiro de 1995