“Em Abril vai realizar-se em Lisboa o 1º Congresso dos Quadros
Angolanos no exterior. Em discussão vão estar matérias como a criação de
estruturas de acolhimento para os quadros que pretendam regressar a Angola, a
definição do estatuto das profissões liberais e a política de desenvolvimento
económico do País. Mas também as pré-condições de regresso vão ser abordadas,
nomeadamente o tipo de garantias por parte do Governo de Luanda assim como a
forma de ultrapassar a animosidade de alguns sectores angolanos em relação aos
quadros no estrangeiro”.
IN “ O Diário de
Lisboa” 31 de Janeiro 1990
“É já hoje corriqueira a constatação de que os recursos naturais e as
matérias primas não constituem a riqueza decisiva dos países e por isso é que a
formação dos recursos humanos adquire, por todo o lado, um papel chave no
desenvolvimento e na promoção sócio -económica. Angola é, reconhecidamente, um
País rico em recursos naturais e matérias primas. Mas não se negará, decerto,
que dela se possa dizer, por outro lado, que é um país pobre em recursos
humanos qualificados, várias, complexas e cruzadas são as causas explicativas
dessa situação e creio vir a ser indispensável, no futuro, desnudá-las uma a
uma, analisá-las, relacioná-las, e situar cada limadela no “puzzle” delicado,
mas forçosamente arquitecturável, de uma estratégia para o desenvolvimento
nacional. Como Angolano que me sinto, sinto e desejo que a paz venha depressa
para Angola, e como homem livre que sou, partilho dessa convicção inabalável de
que todos os homens devem ser e serão livres (…..)
E seja-me a este propósito, permitido avançar a minha convicção de que
este congresso pode constituir um excelente “pontapé de saída” para a
concretização de medidas de reencontro e de retorno de angolanos cuja
qualificação técnica e profissional é de certo vital para Angola.
Espero que restem poucos a resistir ao apelo longínquo, mas aliciante,
da “terra-mãe”, e ao desafio de uma comunhão irmã no combate à miséria, às
discriminações, ao atraso e ao subdesenvolvimento. Sem traumas e sem complexos
recíprocos, na memória comum de grandezas e de fracassos de uma “angolanidade”
que foi partilhada e deve ser hoje revivificada e identificada num quadro novo-
este congresso pode e deve ser hoje exemplo do que de concreto se pode fazer
para que “o caminho se faça caminhando”.(…..)
Nasci em Angola, vivi em Angola, não esqueço Angola. Aceitei partilhar
a responsabilidade de intervir neste congresso pela simples razão de que o tema
do convite que me dirigiram significou para mim uma obrigação indeclinável.
Disseram-me apenas isto “ que cada angolano no exterior dê a Angola o que
souber e puder, se Angola e quiser e sem contrapartidas”.
Nenhum Estado e nenhum Governo do mundo, nenhuma lei dos homens, jamais
teve força em qualquer época da história, para fazer abjurar a “cidadania de
alma” de que cada homem se sinta senhor em sua consciência.
Independentemente, pois, dos Estados, dos Governos, das leis e das
consciências, sejamos, cada um de nós, um angolano para Angola.”
In “I Congresso de
Quadros Angolanos no Exterior”
Lisboa 26, 27 e 28 de
Abril de 1990
“Alguns chamaram-lhe “parlamento aberto”. Outros valorizaram o espaço de
diálogo, contacto e convívio. Todos coincidiram no enaltecimento da iniciativa
como um contributo para a paz. O congresso estava no seu segundo dia quando se
iniciou a primeira ronda negocial para a paz em Angola, a 24 de Abril em Évora.
Mil e quinhentos angolanos e luso-angolanos irmanados pelo mesmo objectivo de
pacificação em Angola, ligados por lutas comuns, ocupando os mais diversos
lugares no aparelho do Estado e na iniciativa privada, davam a primeira grande
contribuição para esse ideal de paz e fraternidade.”
IN “ O Jornal” 14 de
junho 1991