“Estou bem de saúde, a comida continua a ser razoável, o apartamento é
muito confortável, enfim, tudo corre normal. Quanto ao trabalho tem sido o que
se esperava, talvez com a diferença de que tenho trabalhado mesmo bastante para
poder ter pronto o texto da Lei.
Com todos os atrasos dos correios, também não tenho recebido jornais,
de modo que não sei o que aí se passa. Com os telefones é a mesma coisa. A
maior parte das vezes nem se consegue ligar para a central telefónica e as
pouquíssimas vezes que o consegui recebi como resposta que havia avarias em
Lisboa. Hoje almocei na nossa Embaixada
a convite do encarregado de negócios (o embaixador está em Lisboa) e nada de
especial me contaram, para além da baixa das taxas de juro, visita de Eanes a
Cabo-Verde e pouco mais.
A diferença para melhor está na comida e nas instalações. O
abastecimento público melhorou de há dois anos para cá e vê-se muito mais estrangeiros,
há mais coisas para comprar, inclusive do Senegal, Costa do Marfim, etc. Só que
ao contrário de há dois anos, limito-me a andar do apartamento para a
Secretaria de Estado, saio para almoçar no hotel, volto ao serviço, regresso ao
apartamento, vou jantar e volto até ao dia seguinte. Nem sequer, nesta semana,
tenho dado um pequeno passeio de carro à saída do serviço, pois quero evitar
juízos. Acabo por aproveitar trabalhar à noite aqui no apartamento, pois tenho
reuniões de manhã com um grupo de três juristas que são meus interlocutores e à
tarde trabalho no Gabinete, no edifício da Secretaria de Estado. Felizmente que
há muito trabalho. Ao empenhar-me não sinto tanto a passagem do tempo.
Mas agora que estão quase decorridas duas semanas começo a fazer contas
aos dias que faltam para a partida”.
Bissau, 28 de
Novembro 1985
Comprei muitos quadros e umas tapeçarias muito interessantes. São para
a Areia Branca e creio que vão ficar muito bem. Espero-vos no aeroporto. Pede
ao João para ir, para me ajudar a trazer as malas.
Bissau, 5 de Dezembro
de 1985