“ Nascimento Rodrigues, homem ligado à cooperação com África, perito da
OIT para assuntos africanos, trabalhou na elaboração da legislação laboral na
Guiné Bissau, e em S. Tomé e Príncipe. Esteve em Cabo Verde. Conhece África
“como as suas mãos”. Ele próprio é um africano - de Angola. Dirige o Gabinete de
Cooperação do Ministério do Emprego. Uma política definida assim:”
“ Somos pragmáticos, Ganhámos credibilidade. De boas palavras e de boas
intenções os países africanos de expressão oficial portuguesa estavam fartos. A
política de Cooperação no que toca a este Ministério tem dois eixos
fundamentais: enviamos técnicos a África, que dão apoio aos ministérios
homólogos. Recebemos em Portugal técnicos africanos que estagiam nas nossas
estruturas e empresas portuguesas. A prova de que a Cooperação com África está
a ter bons resultados, está no convite que, no ano passado, o Ministro do
Trabalho de S. Tomé e Príncipe e actual Primeiro-Ministro daquele Estado, fez
ao Ministro do Trabalho português. Mira Amaral. E no convite que Moçambique
agora fez, que merece honras especiais, uma vez que é fruto de uma resolução do
próprio Conselho de Ministros”.
“Nascimento Rodrigues não recusa que a sua intervenção em África,
enquanto perito da OIT facilitou o que vem sendo desenvolvido na Cooperação
entre Portugal e os estados africanos de língua oficial portuguesa. Nascimento
Rodrigues fala das condições que se oferecem aos técnicos portugueses e do que
os africanos esperam de nós.”
“ Queremos que a OIT e as estruturas das Nações Unidas recorram aos
portugueses. Que contratem os nossos técnicos. Eles chegam a África e têm uma
capacidade de diálogo, de entendimento, que nenhuns outros são capazes de ter.”
“As diferenças políticas entre Portugal e os países africanos não são
obstáculos. Nem as diferenças no que toca à organização económica e social”:
“ Os portugueses intervêm nos aspectos técnicos, ajudam. Não interferem
nos problemas internos, nas decisões de política que apenas competem aos
Governos desses países”.
“ Para Nascimento Rodrigues tem havido uma contabilidade errada na
cooperação portuguesa em África”:
“ Os números parecem pequenos porque a cooperação está dispersa. No dia
em que toda a cooperação for coordenada, ver-se-à que o volume despendido é
muito superior ao que se diz. Essa coordenação é essencial, para que os
esforços, que são muitos, não se percam. Nos meus contactos com África
verifiquei que esses novos países têm uma grande estima por Portugal, que
querem a nossa Cooperação, que os portugueses continuam a ser fundamentais para
o desenvolvimento de África. E penso que nós, portugueses, não devemos
desperdiçar as oportunidades para desenvolver essa cooperação.”
Por Nuno Rebocho, IN”
O Século,” 16 de Abril 1988