“ Já estou instalado no apartamento da “Cicer”. De facto são melhores
do que os do hotel… sobretudo no preço! Tenho carro à disposição, com motorista
e “oficial de protocolo”, de modo que não há grandes problemas. Claro que não é
a mesma coisa do que estar no Hotel, pois tenho de ir tomar todas as refeições
ali e, portanto, estou um pouco “preso” com os horários, por forma a que o
motorista e o funcionário do protocolo também tenham tempo de tomar as suas
refeições, nas suas casas. Mas o incomodo não é grande e compensa. O
apartamento é óptimo: quarto, casa de banho, cozinha e dispensa e uma grande
sala comum. Utilizo a mesa da sala de jantar para trabalhar.
Só que tenho trabalhado toda a semana de um modo intenso: de manhã, à
tarde e à noite. Quase não tenho tido tempo para descansar excepto entre as 18 e
a hora de jantar. Tinham um novo projecto de lei preparado, decalcado do meu,
mas com várias diferenças. Tenho passado a semana a comparar um e outro. É
trabalho fácil, mas muito moroso e cansativo. Só depois disto é que vamos
começar a discutir, no início da próxima semana.
O acolhimento processa-se como calculava: de forma muito correcta, com
dignidade, mas sem cordialidade e calor humano, que das outras vezes tanto me
sensibilizaram. Como tenho o pressentimento que é a última missão que faço
aqui, quero ver se compro várias coisas para a nossa casa da Areia Branca.
Comprei umas tapeçarias de parede da Costa do Marfim que são interessantes.
Acho que os quadros valem a pena.
Estou um pouco cansado do trabalho, mas acho que assim até é melhor,
porque não me aborreço com os tempos mortos”.
Bissau 21 de Novembro
de 1985