NÃO!
“Não quero ir embora já.” Agora
estou a defender na relva, não no Ferrel mas em Troia. Viemos cá uma vez. Só
uma vez.
Como aquela que fomos de carro a
Benidorm. Uma vez. Às vezes basta uma vez para nos marcar para todas as vezes
da vida. Uma vez de felicidade pura de criança que não sabia o que era estar
tanto tempo contigo e ter tudo. Porque do resto sempre tivemos muito pouco. O
suficiente.
Daquela vez fomos a Benidorm.
Comer tortilhas. Nós que nunca comíamos fora porque eramos muitos. Foi só uma
vez. Hoje estou muitas vezes por lá a comer tortilhas. Tantas vezes que poucas
vezes estive cá contigo. Mas contigo bastava uma vez.
“ Pai tive 5 a todas as
disciplinas”
“ Para os melhores há sempre
lugar”.
E tive uns ténis. Uma vez que me
lembro e porque nessa vez eu atá precisava dos ténis. Uma vez. Quando é claro.
Quando é sentido. Quando é tão verdadeiro basta uma vez.
Mas agora não vou ter mais
nenhuma vez contigo. Nem mais uma vez. “ O nosso pai morreu”. Foi só uma vez.
Mas parece que o momento da morte é assim: só uma vez.
“O nosso pai morreu”. O caixão
corre pela calha e eu já não vejo o teu rosto frio.
“Adeus pai. Adeus pai. Adeus pai.
Adeus pai….”
As palavras repetem-se no meu
ser, saem pela minha boca (será que saem) e o caixão segue sem sair da calha.
“ O nosso pai morreu”. Só uma
vez. Só uma vez que as cortinas fecharam e tu desapareceste para sempre da
minha vida. E por isso estou a escrever. Só desta vez. De uma forma clara ( tão
clara quanto os meus olhos em lágrimas permitem), tão sentido ( quanto o meu
coração gelado permite) e tão sincera ( tanto quanto as minhas mãos o permitem).
E por isso estou a escrever. Só
desta vez.
Para não esquecer todas as outras
vezes que estavas junto de mim.
Nuno, 12 de Abril de
2010