sábado, 12 de maio de 2012

EM TUA MEMÓRIA PAI


NÃO!
“Não quero ir embora já.” Agora estou a defender na relva, não no Ferrel mas em Troia. Viemos cá uma vez. Só uma vez.
Como aquela que fomos de carro a Benidorm. Uma vez. Às vezes basta uma vez para nos marcar para todas as vezes da vida. Uma vez de felicidade pura de criança que não sabia o que era estar tanto tempo contigo e ter tudo. Porque do resto sempre tivemos muito pouco. O suficiente.
Daquela vez fomos a Benidorm. Comer tortilhas. Nós que nunca comíamos fora porque eramos muitos. Foi só uma vez. Hoje estou muitas vezes por lá a comer tortilhas. Tantas vezes que poucas vezes estive cá contigo. Mas contigo bastava uma vez.
“ Pai tive 5 a todas as disciplinas”
“ Para os melhores há sempre lugar”.
E tive uns ténis. Uma vez que me lembro e porque nessa vez eu atá precisava dos ténis. Uma vez. Quando é claro. Quando é sentido. Quando é tão verdadeiro basta uma vez.
Mas agora não vou ter mais nenhuma vez contigo. Nem mais uma vez. “ O nosso pai morreu”. Foi só uma vez. Mas parece que o momento da morte é assim: só uma vez.
“O nosso pai morreu”. O caixão corre pela calha e eu já não vejo o teu rosto frio.
“Adeus pai. Adeus pai. Adeus pai. Adeus pai….”
As palavras repetem-se no meu ser, saem pela minha boca (será que saem) e o caixão segue sem sair da calha.
“ O nosso pai morreu”. Só uma vez. Só uma vez que as cortinas fecharam e tu desapareceste para sempre da minha vida. E por isso estou a escrever. Só desta vez. De uma forma clara ( tão clara quanto os meus olhos em lágrimas permitem), tão sentido ( quanto o meu coração gelado permite) e tão sincera ( tanto quanto as minhas mãos o permitem).
E por isso estou a escrever. Só desta vez.
Para não esquecer todas as outras vezes que estavas junto de mim.
Nuno, 12 de Abril de 2010