“Um
jurista especializado em Direito do Trabalho, consultor de sindicatos antes de
ser militante partidário, que cumpriu um dos
mandatos menos contestado pelos trabalhadores à frente do difícil ministério
da Praça de Londres, que insiste em termos como o diálogo social alargado, a
consensualização, a concertação – eis quem o prof. Cavaco Silva procurou para
restaurar alguma ordem, depois da greve geral de Março….. Chama-se Henrique do
Nascimento Rodrigues, e nem sequer era contado nas fileiras dos incondicionais
do primeiro-ministro.
Eleito dia 19 de Junho como vogal da Comissão
Política Nacional do PSD, será uma missão difícil, precisamente para quem, como
ele, não acredita no sindicalismo “correia de transmissão”; mas poucos estariam
em condições de lhe ocupar o lugar. Nascimento Rodrigues não será o “comissário
político” de uma espécie de “perestroika” sindical imposta de cima no PSD, mas
dependerá muito do seu tacto e da sua paciência de negociador manter a coesão
na UGT e conter a vertigem da tentação de formar uma terceira central.
Fala com reserva do papel que lhe terá sido
atribuído, associando outros nomes ao seu o que já é revelador: “ Não tenho escondido que o meu grande
desejo é que possa ocorrer uma congregação dos sindicalistas
sociais-democratas, e é com satisfação que vejo que esse objectivo está a ser
prosseguido, e que sindicalistas de grande importância têm dado provas
concretas de que se esforçam por alcançar essa grande plataforma de unidade.”
É conhecida a sua oposição de sempre ao
funcionamento de “ uma
estrutura partidária com finalidades sindicais e laborais” que aliás como jurista, considera oposta,
tanto ao programa do PSD, como às convenções da OIT, como ainda aos pactos dos
Direitos do Homem.
“ A acção sindical deve ser distinta da acção
partidária. Uma coisa são os sindicatos, outra os partidos: aquilo que se
pretende é tornar muito clara esta diferença, e fazer com que as estruturas
partidárias não interfiram no campo sindical, que deve ser reservado aos
sindicalistas.
A minha intervenção política vem desde a
fundação do partido, quando o prof Mário Pinto funcionava como braço direito de
Sá Carneiro na área sindical. Comecei em 74/75 a trabalhar junto do prof Mário
Pinto, de quem sou muito amigo e grande admirador, e que considero o homem que
mais sabe de Direito de Trabalho”.
“É este o seu modo de se atribuir uma
genealogia na complexidade das famílias do PSD.
Mas ainda antes de fazer assessoria jurídica
junto de sindicatos, o jovem licenciado em Direito participou em estágios da
OIT e da OCDE, chegando a ser, mais tarde, o representante do Governo português
no Conselho de Administração da OIT, além de ter realizado, como técnico da OIT
em matéria de legislação laboral, várias missões junto de países africanos de
expressão portuguesa. Ocupa hoje o cargo de director do Gabinete de Cooperação
com África, no 15º piso do Ministério do Emprego”.
IN “ O
Jornal” 8 de Julho 1988