“É uma honra
para o meu País, para o Governo português e para mim próprio ser investido nas
altas funções de presidente da 79ª sessão da Conferência Internacional do
Trabalho (…..)
Não escondo que sinto uma enorme responsabilidade por este momento.
Venho de um muito antigo País da Europa, com uma identidade nacional secular
forjada no encontro com outras civilizações e caldeada pelo diálogo com outras
culturas, cujos valores em grande parte os portugueses acolheram e fizeram
seus. Saberei eu, nesta hora, transmitir-vos a mensagem da unidade essencial do
homem, falar-vos a linguagem do entendimento, expressar-vos as minhas
preocupações e, ao mesmo tempo, as minhas esperanças quanto a um futuro melhor?”
Preocupado com a
situação dos homens e dos povos diz no seu discurso:
“A juntar aos velhos e
gravíssimos problemas da fome, do desemprego, do subdesenvolvimento, das
discriminações – novos e não menos graves problemas foram surgindo e reclamam
solução:
Desequilíbrios ecológicos que ameaçam todas as espécies; a possibilidade
de manipulações genéticas (devido aos espantosos avanços das ciências e das
técnicas); o narcotráfico, a SIDA, a urbanização sem freio;
Colocam em risco sério a qualidade de vida e o futuro do próprio Homem-
a começar pelos jovens, que são a garantia desse futuro, e a culminar na
terceira idade, atirada, nuns casos, para a solidão gerada pela perda da ética
familiar, ou afectada duramente, nuns casos, pela falta de uma protecção social
mínima (……)
Aqui mesmo, neste velho Continente que alberga a nossa Conferência
anual, irrompem confrontações bélicas localizadas, mas nem por isso menos cruéis,
com o seu cortejo de mortes, de refugiados em deambulação, de crianças
atingidas pela tragédia do desamor. E por muitas outras bandas despontam
manifestações de xenofobismo, reacções de intolerância, impulsos de egoísmo
concentracionistas, como a prenunciar mais convulsões. Não são, estes, sinais
iniludíveis de fundos e sérios desequilíbrios em muitas das nossas sociedades?
Nunca, como agora, o nosso mundo teve tantas oportunidades de criar condições
para que a plena dignidade do Homem seja alcançada. Na Europa Central e Oriental
na África, na Ásia e na América Latina, tal como anteriormente na Europa mediterrânica,
milhões de homens conquistaram a liberdade. Estou convicto de que os resquícios
ditatoriais que ainda subsistem têm os dias contados. Ser livre está impresso
na alma dos homens.”
E, (neste contexto de
Liberdade), fala na importância da Democracia:
“É verdade, assim, que a democracia ganha caminho. Todavia, democracia
não significa apenas ausência de ditadura. As liberdades que ela postula só são
reais, e não meras caricaturas, quando exercidas num Estado de Direito, o que pressupõe
o império da Lei e o primado da Justiça.
Por outro lado, a soberania popular não se esgota no periódico
exercício democrático do voto universal e secreto. (….) Na sociedade, o homem
não é apenas cidadão eleitor: ele é,
igualmente, trabalhador ou empresário, cientista ou camponês, produtor e
consumidor, jovem ou pai de família. Por isso é espontâneo e é legítimo que
busque associar-se com outros em organizações representativas desses interesses
espacíficos”
Genebra 3 de Junho
1992