“Vale a pena, reconstituir, tanto quanto me foi dado saber, os passos
mais difíceis da difícil caminhada político-diplomática que conduziu ao sucesso
da candidatura de Portugal à Conferência Internacional do Trabalho deste ano.
A primeira contrariedade adviria da surpresa traçada pela Holanda,
divulgando a sua candidatura logo no último dia da sessão da Conferência de
1991, ao arrepio, por conseguinte, da calendário tradicional.
Nesta antecipação, a Holanda jogava não só com um avanço inesperado
como lançava no tabuleiro do processo de escolha das candidaturas dois outros
factores de tomo: primeiro, o prestígio que esperaria colher da presidência da
Comunidade Europeia, a ocupar ao longo do 2º semestre de 1991; segundo, o peso
do nome respeitado de seu candidato, Max Rood, antigo Ministro, professor de
direito do trabalho na Universidade de Leyden e ex-presidente da “Comissão de Aplicação das Normas” da OIT. A
candidatura holandesa despontava, assim, com enormes probabilidades de êxito e
a sua diplomacia não perdia tempo na corrida para a fazer consolidar sem
concorrência. Foi neste contexto que o Governo Português decidiu, logo em Junho
de 1991, instruir a Missão Permanente de Portugal junto das organizações
internacionais, em Genebra, para formalizar com firmeza perante as suas
congéneres aí sediadas a candidatura nacional.
Com efeito, não parecia justo que um membro tão antigo da OIT fosse
preterido por outro que já detivera a presidência de duas CIT. Portugal
antecipava também o prestígio potencial que igualmente lhe poderia advir da
presidência da CE, a exercer exctamente num período que coincidiria no tempo
com a da CIT.
No decurso do delicado processo de disputa entre as duas candidaturas,
e aproveitando-a outros países europeus davam entretanto a conhecer a sua
disponibilidade para procurar uma terceira solução consensual. (Como por
exemplo a Suíça).
Perante este cenário de margem de manobra mais apertado, justificava-se
o empenho numa estratégica crescente de envolvência global. A diplomacia
portuguesa aumentaria então contactos e formalizaria novas iniciativas, de
Washington a Moscovo, do Zaire a Madrid, enfim, na generalidade das capitais dos
países com os quais mantemos negociações diplomáticas.
Lateralmente mas com oportunidade táctica chamava-se à memória o
relacionamento do candidato português com a própria OIT, em acções de
cooperação técnica com os países lusófonos.
Só em 4 de Março deste ano, o porta voz da delegação holandesa
anunciaria, formalmente a retirada da candidatura dos Países Baixos em favor de Portugal.
Tudo parecia, portanto, definitivamente resolvido. Não era bem assim.
Em 3 de Abril último pretextando o desaparecimento do bloco de leste, e
considerando-se integrante, pelos seus actuais valores democráticos, da região
europeia ocidental, a Missão da Polónia comunicava oficiosamente à nossa Missão
permanente em Genebra o desejo de apresentar a candidatura do seu Ministro do
Trabalho, Jerzy Kropiwnicki.
E não é difícil de pressentir que a travada formalização da polónia
acarretou para a nossa diplomacia um rápido e muito firme esforço, em
particular junto dos parceiros comunitários como se impunha, a fim de atalhar
que a questão se reabrisse.
Estava, enfim, encontrado o consenso pleno dos países da Europa Ocidental
para que se avançasse com a propositura da candidatura de Portugal em nome de
todos.
Lisboa, Dezembro de
1992
Nascimento Rodrigues
in “ A Democratização
e a OIT” Edição: Conselho Económico e Social
Prefácio
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