“O Governo português foi um ganhador de mérito nesta corrida de fôlego à
presidência da CIT de 92. Mas seria profundamente injusto, não relevar os
inúmeros agentes do Estado aos quais se fica a dever, em larga medida, a
finalização bem sucedida do objectivo perseguido.
É quase certo que a documentação burocrática não mencionará os que de
entre eles foram os mais anónimos, mas nem por isso menos brilhantes, capazes e
esforçados. Exactamente porque anónimos, não consigo citá-los; mas posso, devo
e quero lembrá-los neste prefácio.
Não pode haver qualquer dúvida de que a imagem externa do País, por
altamente prestigiada na disputa a que se submeteu, foi a pedra de toque para o
desfecho alcançado.
Imagem de marca de velha Nação de rosto humanista e andarilha pelas
quatro partidas do mundo; imagem respeitada pelo esforço de democratização
política, económica e social internamente bem consumado, e pelo desempenho de
crescente integração na Europa comunitária.
São aliás elucidativos, nesse sentido, os discursos pronunciados na
sessão inaugural da Conferência, aquando da apresentação da candidatura
portuguesa. O número de oradores apoiantes excedeu o ritual necessário. E,
sobretudo, foi significativo que certos deles se erguessem na veste de porta –
voz de certos países e regiões do globo para exprimir total apoio `a
candidatura portuguesa. Esta ganhava, assim, não só o suporte dos grupos
governamental, dos empregadores e dos sindicatos, tão peculiar na composição da
OIT, como a concordância, por vezes expressiva, das regiões do mundo
representadas na Organização.
Não foi, por isso, sem alguma surpresa que, em nome do grupo africano,
se assistiu à declaração de apoio do representante da Líbia; tal como, em nome
dos países da região da Ásia e Pacífico, ver-se-ia o Ministro dos Assuntos
Sociais do Irão a sustentar a candidatura de Portugal; como ainda, falando pelo
grupo dos países árabes, o Ministro do Trabalho e dos Assuntos Sociais dos
Emiratos Árabes Unidos subiria à tribuna para dar conta da concordância árabe à
presidência da CIT por um português.
Enfim, particularmente sensibilizante para nós, portugueses, o delegado
governamental de Angola, exprimindo-se formal e significativamente em nome e
por mandato dos cinco países africanos lusófonos, - e dessa forma marcando com
pertinência a singularidade dos “Cinco” – fazer ouvir esta voz irmã africana em
favor da candidatura portuguesa.
Mas há outra relevantíssima razão para que a 79ª sessão da CIT deva obter
registo honroso. É que pela primeira vez, e não apenas no seio da OIT, o
português viria a ser utilizado como língua de trabalho ao longo de todas as
sessões do Plenário e de algumas Comissões da Conferência. Pretensão antiga,
natural e legítima – sabe-se bem, todavia como tem sido difícil fazê-la vingar
nas organizações do sistema das Nações Unidas, perante posições e interesses de
outros países.
Está em causa, aí, uma aposta de profunda estratégia nacional no mundo
e essa não deve passar, decisivamente, pelos cifrões que nos custe o poder
falar português em assembleias internacionais. Por isso mesmo fiz questão de,
desinibidamente, só falar a nossa língua na condução dos trabalhos que, como
presidente da Conferência, tive de dirigir nas sessões plenárias.
Lisboa, Dezembro de
1992
Nascimento Rodrigues
in “ A Democratização
e a OIT” Edição: Conselho Económico e Social
Prefácio