A 23 de Junho de 1992 o Henrique profere o seu discurso de
encerramento, do qual reproduziremos um excerto
(…) “ É preciso agora – neste preciso momento em que este vento de
ânsia de democracia sopra por todas as bandas – não permitir que se caia no
erro fatal de se conceber a democratização como uma “moda que se mudará ni fim
da estação. E é preciso igualmente que não se tombe na ilusão fatídica de se
pensar que a democracia política pode sustentar-se sem a democracia económica e
social. (…)
Não compete à OIT nem interferir nas questões políticas, nem nas
escolhas institucionais dos sistemas políticos. Mas não pode deixar de lhe
incumbir, em primeira linha, um contributo específico e incomparável na
inspiração e na formação dos valores democráticos, que sedimentam e fazem
crescer o tripartismo e o diálogo social, ocorra este apenas entre sindicatos e
empregadores, ou também entre parceiros sociais e governos. (…)
Se insisto nesta prespectiva de democratização das relações
profissionais e da concertação tripartida, é porque admito que os outros
grandes e nobres objectivos, acolhidos como prioritários para os próximos anos,
dificilmente se alcançarão sem um empenhamento comum dos governos, sindicatos,
associações de empregadores e, até, de outras instituições livres, emergentes
da sociedade civil, cujas finalidades legítimas abarcam também a realização
desses objectivos. (…)
Eis, muito em síntese, a razão porque a OIT, que se posicionou sempre
como trincheira da frente de combate à injustiça social, deve continuar a
pilotar esse combate. (…)
Senhores Delegados
Já tive a oportunidade de qualificar esta 79ª sessão como a Conferência
da tranquilidade e da eficácia. Há excelentes razões para vos felicitar por
isso. Tranquilidade não significa inacção ou conformismo. Ao contrário: é em
clima de tranquilidade que as reflexões se tecem e emergem com profundidade, as
actividades se programam com racionalidade e os resultados se alcançam com
eficácia. (…) Conferência da tranquilidade, pois. Mas também, e por isso, Conferência
da eficácia. Eficácia que se fica a dever a todos vós, a começar pelos
vice-presidentes da Conferência, que tanto apoio me prestaram, aos delegados e
conselheiros técnicos, aos inúmeros e anónimos funcionários que se
desmultiplicaram em trabalho sem horário e dedicação inexcedível para que tudo
funcionasse com prontidão e com eficiência. Para todos vai a minha profunda
gratidão, sem esquecer os intérpretes da língua portuguesa, que nesta
Conferência foi utilizada no plenário e nas comissões, motivo de justificada
satisfação para todos os sete países que se exprimem em português. (…)
Chegamos, assim, ao último minuto desta Conferência. O presidente
passa, a Conferência continua no próximo ano.
Não escondi, nas palavras que proferi na sessão inaugural, as pesadas
preocupações que sobre todos nós impendem. Por isso, a resposta aos problemas
da injustiça social, velhos ou novos, não podem passar pela utopia, que nos
conduziria ao abismo. Também não deve passar pala miragem de que amanhã
acordaremos todos num mundo melhor. Temos que ser realistas, pragmáticos,
lutadores mas lúcidos, neste eterno combate pela felicidade dos homens.
Todavia, exactamente porque somos homens e não deuses; exactamente
porque somos homens e não máquinas de trabalho – temos alma.
Permitam-me, então, que termine a minha mensagem, invocando um poeta do
meu País, que diz assim
“ Sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”
Desejo-vos a todos um feliz regresso aos vossos países. Muito
obrigado”.
Genebra 23 de Junho 1992