“Portugal, vai assumir pela primeira vez, na pessoa do ex-ministro
Nascimento Rodrigues, a presidência da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) – setenta e três anos depois da criação daquele organismo das Nações
Unidas, vocacionado para a definição das políticas laborais. O acontecimento
está agendado para o período de 3 a 23 de Junho, em Genebra, sede internacional
da organização, por decisão da 79ª sessão da Conferência Internacional do
Trabalho, que reunirá os 150 países-membros. Apesar de a presidência caber,
este ano, a um país europeu de acordo com a regra da rotatividade entre
continentes, regiões e Sub-regiões políticas, a eleição foi acaloradamente
disputada. A Holanda – que indicou, antes de Portugal, o nome do seu
ex-ministro do Interior – entrou também na “corrida”.
A competição “musculada” entre os dois parceiros comunitários fez
surgir a “ameaça” da candidatura suíça, apostada em tirar partido da
neutralidade que conserva. O “lobbie” lusófono foi, porém, mais forte, dado o
apoio expresso pelos representantes africanos. Angolano de origem, Nascimento
Rodrigues (51 anos) foi já perito da OIT para missões na Guiné-Bissau, São Tomé
e Príncipe e Cabo Verde e ocupou o lugar de dirigente da cooperação entre
Portugal e os PALOP na área laboral. Com esta presidência Portugal obtém uma
relevância sem precedentes em instâncias internacionais.
Não se sabe ainda se a língua portuguesa irá ser utilizada, também pela
primeira vez, neste importante fórum Internacional. Nascimento Rodrigues
promete bater-se por esse objectivo.
O ambiente favorável a Portugal, que tem como principais aliados os
onze parceiros comunitários e os PALOP, poderá, no entanto, vir a ser
contrariado, pelos representantes da Indonésia, previsivelmente apostados em
criar dificuldades.”
IN “ O Expresso” 7 de
Março de 1992
Jornal de Notícias-Pela primeira vez um português vai presidir à
Conferência Anual da OIT. Como se chegou a essa escolha?
Nascimento Rodrigues – “ A
circunstância de Portugal ter sido escolhido representa, por parte dos outros
países europeus – este ano a presidência cabia ao grupo europeu – o reconhecimento da
importância do nosso país no contexto internacional, dado que na OIT estão
representados mais de centena e meia de países. A escolha tem que ver,
naturalmente, com o relacionamento de Portugal com a África e com outros
continentes. Trata-se, a meu ver, de uma designação histórica. A OIT existe há
mais de 70 anos, desde o Tratado de Versalhes, e é uma das instituições mais
prestigiadas da ONU. Todos os anos é designado um presidente para esta
conferência e nunca um português tinha sido escolhido. É muito honrosa,
portanto a escolha de Portugal, e eu não posso, com toda a justiça, deixar de
sublinhar o papel que os ministérios dos Negócios Estrangeiros e do Emprego
tiveram nesta matéria, tanto mais que a Holanda esteve na corrida e desenhou-se
mesmo, a candidatura da Suíça.
A minha candidatura foi comunicada a todos os países do Mundo e julgo
saber que o meu nome teve uma certa influência junto dos países africanos, dada
a minha experiência pessoal, como perito da OIT, há alguns anos, em países como
a Guiné- Bissau, Cabo verde e S. Tomé e Príncipe.”
In “ Jornal de
Notícias 21 de Março 1992
Português língua oficial da OIT
O acontecimento terá este ano uma outra novidade que muito honra
Portugal e os países de língua oficial portuguesa. Ou seja, por acordo entre o
Bureau International du Travail e o Palácio das Necessidades, o Português será
língua oficial dos trabalhos. Diversos temas vão estar em debate nesta 79ª
sessão mas a grande discussão prende-se com o papel da OIT na democratização
dos países e na consecução do objectivo da Justiça social.
In “ O Correio da
Manhã" 28 de Maio de 1992