“Queria que fosse sempre dia10. Insensata, esta procura que
faço. Já não estás ao meu alcance. Tão longe te vejo! Tão perto te procuro! Sonho
que toco teu corpo vago, diáfano, incorpóreo. O fim surge. Sem aviso. A dor do
sorriso que não se esboçou, a dos silêncios suspensos, inacabados. E choro de
pena e de saudade. Tenho que reformular a dor, sentir a ausência e, dar voz ao
silêncio. Falar, olhar, comunicar, manter toda essa cumplicidade desaparecida, encerrada
em murmúrios segredados de alegria. Impossível gerir o luto, a perda, o
isolamento, o ”não estás cá”. A vaga lembrança que tenho da tua morte, não é, sequer,
uma lembrança. Morrer? Tu? Impossível! Sempre te conheci. Sei da massa de que eras
feito. Só podias morrer, se desistisses e desistir nunca foi contigo. Nunca!
Mas tenho uma dor imensa porque se não estás cá é porque abandonaste a tua
velha companheira. Deixas-te–me só, sem um aviso, sem um adeus, sem um até já.
Por isso choro. Não foi isso que juramos, não foi isso que vivemos. Sempre
juntos. Por nós. Pelos nossos sonhos. Pela Felicidade. Pela nossa sinceridade.”
Há coisas em ti que eu não gosto, dizias e, continuavas: mas não concebo a minha
vida sem ti”.
E agora com quem estás? Por quem me deixastes? Quem te compra os
livros? Com quem os lês? Tu lias… eu começava, assinava, marcava a data e
deixava para outra ocasião. Sei tudo: quando os leste, em que dias, em que
circunstâncias. Estar com os livros é estar contigo. Mas sinto falta da intimidade,
do comentário, daquele abraço de felicidade, que só a tua presença trazia.
Incompleta, sem rumo, dificuldade em te esquecer, ansiosa por te tocar, por te
olhar, por ler contigo mais uma vez, sem deixar o livro a meio.
E todos os dias eu acho que vai acontecer. Todos os dias vão ser
dia 10 de Abril. Agora já sei. Não te deixo partir.”