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Todos eles defendiam, a seu modo, o facto de serem angolanos,
e de desejarem que Angola fosse uma terra livre e progressista. O Henrique, nos
seus jovens 17 anos, percebeu que estava isolado no seu modo de encarar o
futuro de Angola.
“ Nunca me darei por vencido! Eu deixaria de ser eu se fosse
derrotado. Essa hipótese põe-se-me tão improvável como se eu pudesse trazer a
lua dentro do bolso do meu casaco!
Se eu “menino e moço” marquei o meu destino, tracei o rumo
da minha vida, em muitos pontos diferentes do que me tinham destinado – eu
mesmo que me fiz a mim mesmo, não vou deixar de ser o mesmo! Os sonhos que eu
sonhava, sonho-os ainda hoje; e se a
vida me for adversa, tudo o que de mau há nela terá de me derrubar e passar
sobre mim para que eu renuncie. Mas para que ela passe sobre mim, será
necessário que eu já não tenha forças para passar eu por cima dela. Só nesse
dia, porventura, terei desistido de sonhar.
Continuarei a sonhar com o que quero até quando eu quiser; e
se outros sonhos, provenientes de outra idade me vierem povoar a mente, os
antigos não serão relegados para 2º plano.
Também a mim “menino e moço” me levaram da minha terra para
outra terra que não a minha, mas eu
hei-de voltar – nota bem – à minha terra, tão moço como dela saí! O corpo
poderá ser já velho; mas o espírito há-de ser o mesmo revoltoso e sonhador
ao mesmo tempo. Porque se não for,
eu prefiro ficar cá a ir desonrar a minha terra com as ideias que aqui
se respiram. Ou volto sendo o mesmo, ou então não volto – e eu hei-de voltar!”
Lisboa Abril de 1958