"Não
se pode governar num clima de oposição interna, corrosiva,
permanente. O que é curiosamente surrealista é que certos opositores do Governo
o acusam de não governar ou governar mal. E, vai daí, toca de criar as
condições e de montar todo o aparelho possível conducente a inviabilizar ou a
dificultar uma governação normal.
Faz-me
lembrar a história do ladrão que rouba e desata a correr pela rua
gritando ”acudam que me roubaram”.
Temos
que responsabilizar as pessoas por aquilo que fazem e não fazem. Que se
responsabilize o Governo por eventuais erros, nada a objectar, pelo contrário.
Mas que se coloquem obstáculos, se levantem calúnias, se denigram figuras, se
recuse o entendimento, para, depois disso, criar assim maiores dificuldades ao
Governo – isso é inacreditável e pouco digno. Dir-me-ão que a política é assim.
Eu respondo que é assim que se mata a democracia porque esta tem de assentar
num núcleo essencial de valores éticos para poder desenvolver-se, ou então
desacredita-se.
Em
1º lugar, a CGTP/IN aproveita-se da
situação de instabilidade provocada. Está no seu papel. O papel dos
sociais-democratas, é que não pode ser o de facilitar a vida à CGTP e ao PCP.
Em
2º lugar, uma política de diálogo social alargado exige como condição essencial
que o interlocutor dos parceiros sociais, ou seja, o Governo, tenha apoio e
seja claramente sustentado pela sua base política e social. É obvio que se não
vai dialogar com quem não se sabe se, amanhã, é o interlocutor adequado. É
obvio que não se vai dialogar se o interlocutor foi enfraquecido internamente.
Em tais situações, não se dialoga: amplia-se a luta, radicaliza-se a
reivindicação laboral e procura-se instalar a agitação permanente.
É
o que faz a CGTP nesta crise, certamente grata aos seus involuntários aliados
“contra-natura”.
Quem
semeia ventos, e nem sequer os sabe dominar, colherá tempestades. Eu pergunto
se é isto a defesa dos interesses do País, da estabilidade social e do
progresso económico”.
In
“ A Capital”. Sexta- feira, 7 de Agosto
de 1981