Oito meses após a morte de Sá Carneiro, e em sequência de
enorme agitação política, particularmente dentro do PSD, o País fica sem
Governo.
A opinião do Henrique, expressa a um jornalista do semanário
“O Tempo” é a seguinte:
“ O pedido de
exoneração do Primeiro Ministro foi a consequência inevitável do comportamento
e dos objectivos perseguidos pelo
impropriamente chamado “grupo” dos críticos. A atitude não poderia ser outra
depois daquilo a que se assistiu no último Conselho Nacional do PSD, onde uma
minoria, aliás, quanto a mim, não homogénea, de pessoas, se recusou a dar-lhe
condições para continuar na chefia do Executivo. E mais: quando o Dr. Balsemão,
face ao espectáculo de radicalização criado pela minoria ao longo dos debates,
sentiu o risco de quebra da unidade do partido, dispôs-se até ao último momento
a aceitar uma plataforma de conciliação para ultrapassar esse risco. Pois nem
sequer essa plataforma foi aceite por consenso, como se verificou pelos
resultados da votação. Estes factos, que não são confidenciais porque já toda a
imprensa os relatou, e que correspondem, em síntese, à verdade do que sucedeu
no Conselho, criaram as condições políticas inevitáveis para a apresentação do
pedido de exoneração do Primeiro Ministro.
Algumas pessoas têm-se mostrado surpreendidas com o
imprevisto deste desfecho. Não há aqui nada de surpreendente. Quando ao longo
destes meses, se assistiu a uma campanha sistemática de deterioração da imagem
do Governo e, sobretudo, do Primeiro Ministro; quando, publicamente, e antes do
Conselho Nacional se vem exigir a
demissão do Chefe do Executivo; quando se ouvem, ao longo do Conselho Nacional
do PSD críticas de uma dureza atroz, algumas de sentido totalmente demolidor e,
até palavras ofensivas da dignidade pessoal, quando se diz, frente a frente que
este Primeiro Ministro não tem capacidade de realização, que se deve demitir
imediatamente, porque se não o fizer no dia seguinte continuará a campanha de
obstrução ao Governo, e quando se recusa a mais ampla hipótese de conjugação de esforços e de conciliação de
posições – quando tudo isto acontece, não há que surpreender ter o desfecho
sido o que foi. Pretendia-se enfraquecer ainda mais a posição do Primeiro
Ministro, pretendia-se desgastar por algum tempo mais este Governo, pretendia-se
fazer deteriorar a situação política ao ponto de haver de surgir então,
naturalmente apetecida, outra liderança, outro Governo e outro projecto
político, sob a capa de renovação do actual. A isto respondeu o Dr. Balsemão
com um rotundo “não” e um firme “basta”. Tenho para mim que foi uma atitude
coerente, uma posição digna e uma solução correcta."
IN "O Tempo" 13 de Agosto 1981